6 de dezembro de 2003

Sejamos verdadeiros. Poucos gostam verdadeiramente de trabalhar neste país. Eu até desconfio que não seja das pessoas, mas da terra. Porém, como isso é impossível de provar, por agora temos de ficar pela culpabilização dos habitantes.
Numa altura em que conjectura anda mal, diz-se que os portugueses andam tristes, cabisbaixos, mesmo surumbáticos. Não admira! É que cada vez há mais coisas para comprar (e nem todas fúteis!), cada vez há mais coisas interessantes para fazer, cada vez as raparigas estão mais giras e ninguém tem dinheiro para nada (sim, o dinheiro é preciso para muita coisa, sobretudo quando a imaginação é pouca). E pior: melhoria à vista, não há; o que é pior quando se sabe que os portugueses se assumem como detentores de todos os direitos imagináveis, fenómeno que tem a haver com um obscuro sentimento de responsabilidade por terem de ser eles os herdeiros de 850 anos de história. Não é que os portugueses sejam incapazes, ou menos dotados. Eu acho que somos todos muito invejosos e o conceito de união é por nós extremamente mal entendido.
As tensões sociais agravam-se (agora despreza-se pessoas só porque (não) têm dinheiro; já nem é por classe social) e poucos são os que fazem as suas tarefas com amor-próprio e carinho. É nisso que desaparece a esperança: nos pequenos pedaços das nossas vidas. E parece-me que ninguém reparam nisso.

6 de dezembro de 2003

4 pensamentos em “não me chame coitadinho

  1. Pois é…Neste inicio de século aumenta a crise em todos os sentido,e sobretudo a crise de valores.O que vale é o caro que se tem,o relogio,a roupa…esquecendo que o que na realidade faz o homem é o que ele pensa e constroi.Por isso,aos 39 anos,sou uma desiludida,não de mim própria mas do meu país.Onde param os valores? Onde para o orgulho em ser-se Português?Onde estão as coisas boas deste país? É só procurarmos…e encontramos!Encontramos os discos da Amália Rodrigues,os versos do Pessoa,os livros de Lobo Antunes…e tantos tantos outros motivos de orgulho e paixão.

  2. A questão é se até no conjunto de todas coisas que há de bom em Portugal, nós conseguimos pôr de lado o orgulho pessoal e o egoísmo, e fazer delas aquilo que elas realmente são e não apenas uma manifestação bacôca de patriotismo ostensivo.

  3. Ricardo Ramalho says:

    Hmmm… É giro ver toda a gente a queixar-se! Tudo está mal e nunca realmente está algo bem… Eu próprio me incluo no lote dos “queixosos”. Acho que está sempre algo “mal”… Mas as coisas não são propriamente assim. Concordo quando falas em ausencia de espírito colectivo. É triste… e afecta-nos a todos.

  4. Sim, é verdade que é mais fácil dizer mal que bem. Mas há mesmo coisas más cá em Portugal. Os portugueses estão cada vez mais ignorantes e, pior, orgulham-se disso. Não há humildade. O que interessa é ter um Porsche e continuar a dar arrotos. Assim não vamos a nenhum lado.

Os comentários estão fechados.

"