29 de abril de 2009

Charles Bulfinch, considerado o primeiro arquitecto americano, foi o autor de muitos edifícios, entre os quais o Capitólio, em Washington, DC. Na State House do Massachusetts, que desenhou, está lá uma placa que o honra e que tem inscrito qualquer coisa como: “Charles Bulfinch, educado em Harvard e pelas viagens que fez no mundo”.
Depois do meu curso trabalhei mais ou menos dois anos, um no meio académico, outro no mundo real. A minha experiência profissional não é, portanto, vasta. Depois disso parti para um doutoramento nos Estados Unidos, país onde resido, fará em Agosto dois anos. Estou perfeitamente consciente das vantagens que há em sair-se do nosso país, da nossa casa, do nosso berço.
Faz bem conhecer novas pessoas, faz bem conhecer novas culturas. Alargam-se horizontes, aprendem-se maneiras de pensar, de trabalhar, de viver. Alguns até ganham mais dinheiro. É bem possível que o programa Erasmus venha a fazer mais pelo país que os Magalhães e muitas outras iniciativas, pelo menos ao nível educacional superior.
Há quem saia de Portugal de forma temporária, há que saia de forma definitiva. Há quem saia à procura de aventura, há quem parta atrás de alguém que ama. Também os há aqueles que saem por frustração e raiva, seja a pessoas, a empresas, a trabalhos, a burocracias ou ao tempo. Maior rol de razões, boas ou más, não existe noutro lado que não no blog Mind this GAP (graduados abandonam Portugal).
Além de mim, há na minha família vários exemplos de graduados que saíram de Portugal. Compreendo as várias razões que levam as pessoas a fazer isto. Também compreendo as várias motivações que vão determinar o desenlace destas aventuras. Eu pessoalmente gostaria muito de voltar ao meu país. Não sei o que lá me esperará ou o que lá conseguirei fazer. Por vezes, reconheço-o, tenho medo desse futuro.
Sinto-me previligiado: o Estado português pagou-me a educação básica, secundária e superior, e dá-me agora a melhor bolsa de doutoramento do mundo. Mais: não reclama de mim qualquer contrapartida! Não sei qual vai ser o meu futuro, mas uma coisa me disse o meu antigo patrão e com a qual concordo: Portugal precisa da minha ajuda, os Estados Unidos não.
Volto a repetir: eu percebo que cada um tem necessidades diferentes e portanto, enquanto eu quero voltar para Portugal (o que não quer venha a pensar da mesma forma daqui a uns anos), outros querem ficar cá por fora. Bem vistas as coisas, vivemos no mundo globalizado; se há quinhentos anos, com muito mais dificuldade, os nossos compatriotas fizeram o mesmo, porque não haveríamos de partir agora? Mas há uma coisa com a qual não me compadeço, algo que vou ouvindo por aqui e por ali da boca destes expatriados, algo que estava escrito num dos textos do referido blog:

Enfim, sou feliz agora. Sinto falta da família e dos amigos (muito poucos) mas só o voltar pelo Natal deixa-me deprimida novamente ao ver que nada mudou no País. Não conto voltar. Se me fartar daqui vou para outro país que não Portugal

Não, deixarmos a nossa casa com problemas e queremos voltar para um lugar melhor, sem termos contribuído, não só não é legítimo, como é desonesto. Repito-o: não condeno ninguém que prefira ficar por fora. Também não condeno aqueles que tentaram vezes sem conta e desistiram; nem todos nascemos para ser mártires. A única coisa que não posso aceitar é aqueles que se demitem do seu patriotismo, mas que ficam sempre a ruminar a ideia de que a Pátria lhes deve algo. Somos nós, aqueles que têm formação adequada para o mundo moderno, que já vimos coisas que funcionam melhor, que temos a obrigação de tentar melhorar a nossa casa.

29 de abril de 2009

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