15 de março de 2012

Há uns meses, o António publicou uma crónica sobre a distância. A distância e a amizade. Quando cheguei aos EUA pensei no mesmo. Os nossos amigos são aqueles com quem partilhamos a vida, que sentido faz estarmos longe e falarmos umas poucas vezes por telefone ou encontrarmo-nos uma vez por ano, inevitavelmente para fazer o resumo do ano que passou? [1]

Mas sair de casa faz parte do acto de crescer. Fatalmente, sair do país é também crescer, é sair de outra casa. Ser turista não é exactamente a mesma coisa e claro que é impossível vivermos em todos os países do mundo, mas mesmo uma breve experiência de vivência é, na minha humilde opinião, recomendável.

Mas e as amizades? Com o Onésimo T. A. aprendi uma das coisas que marcam as amizades portuguesas: demoram tempo a criar. Não porque temos problemas de intimidade e precisamos de tempo para deixar alguém aproximar-se de nós – isso acontece mais nos países anglo-saxónicos. Mas porque as nossas amizades compreendem os dias gastos junto dos outros. Não são compartimentalizadas: o jantar, o jogo de futebol, o cinema, as férias. Fazemos muitas coisas juntos e vêm muito de trás. Partilhamos muita coisa. E essas amizades precisam desse tempo, porque as caracteriza, inevitavelmente.

Ao sair apercebi-me que há outras amizades. Não necessariamente melhores, ou piores. Outro tipo de amizades. Amizades que podem ser suspensas, no espaço e no tempo. E admito que hoje não passo sem elas. Mesmo que não estejam aqui, agora. No entanto, foi preciso estar longe para as adquirir.

Acho que não me desprendo das raízes, cresci assim e não consigo mudar por completo. Mas fez-me bem estar longe para poder vir a estar perto.

  1. Muita coisa se poderia dizer acerca do acto de resumir aos outros aquilo que se passou nos últimos tempos. Fico-me pela paráfrase de algo atribuído a Daniel Innerarity: se estiveste fora uns dias, então aconteceu imensa coisa, se estiveste fora uns anos, então está tudo na mesma.

15 de março de 2012

2 pensamentos em “Onde me fui meter

  1. Botinhas says:

    E sabe tão bem quando voltamos à terra de visita… 😀

  2. Constança says:

    Tens aqui textos tão bons! Que maravilha!

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