15 de julho de 2003
Há cerca de dois anos comprei, para oferecer à minha mãe, um livro chamado Sabores da Toscana, de Stephanie Alexander e Maggie Beer. É um belíssimo livro de culinária, cujas receitas são óptimas e a qualidade gráfica é altíssima.
Hoje peguei nele e lembrei-me do seguinte facto, que já na altura me espantou: quando escolhi o livro, pensei que iria pagar cerca de seis ou sete contos – já se sabe, este tipo de livros de culinária é sempre assim: capa dura, mais de quinhentas páginas, muitas e belíssimas ilustrações, design, impressão e papel de muito boa qualidade. O livro estava em promoção e acabou por me custar pouco mais de dois contos. Em casa, reparei que no interior, juntamente com as especificações técnicas dizia o seguinte: preço aprox. 3000$00. O desconto da promoção foi bom, mas era efectivamente o livro que era barato, especialmente tendo em conta o tipo de livro que é. Só resta dizer uma coisa: a tradução e publicação é da responsabilidade da editora Könemann Verlagsgesellschaft mbH.
Já não é a primeira vez que neste curto blog digo bem de estrangeiros. Mas enquanto que da primeira foi para criticar a visão curta característica dos lusos, desta vez é para me queixar das editoras nacionais (o que no fundo também é falta de visão): há anos e anos que se queixam que é difícil ser-se editor em Portugal e que os portugueses não lêem. Pudera! se o povo já é iletrado e tem pouco interesse por livros, não são certamente os preços que agora (e desde já há muito tempo) se praticam que vão inverter essa tendência. Os livros estão caríssimos. A situação que apresentei é um mero exemplo. Mas podemos ir à Amazon e ver o que acontece lá fora: um romance anda entre os $10 e $20 – é sensivelmente o mesmo que por cá se pede. Mas nós ganhamos metade, ou um terço, ou talvez ainda um quarto do que se ganha em Inglaterra, em França, em Espanha, na Alemanha, nos EUA… São casos diferentes!
Senhores editores, a situação actual por vós praticada é quase incomportável para a cultura nacional, que, se bem me recordo, é o motor do vosso negócio. Portanto, salvo raras excepções, e além de outros, são vós os culpados da pouca leitura no país. E não me digam que não conseguem fazer mais barato, a Könemann consegue.
Concordo plenamente!
As editoras têm grande culpa no cartório, mas gostam que seja apenas artigos de elites. O problema é que as elites não são tão ávidas de cultura assim.