30 de julho de 2003

Nova Iorque – Primeira Parte
Em 1997 fui pela primeira vez viajar a sério para fora de Portugal. Era a primeira vez que saía da Península Ibérica, a primeira vez que ficava fora do país mais do que um fim-de-semana. O meu pai levou-me a mim, ao meu irmão e à minha mãe a Paris. Foi bestial. No ano seguinte o meu pai morreu e daí em diante, a minha mãe decidiu levar-nos todos os anos a um sítio diferente.
Foi assim que conheci, entre outras, Londres, Veneza, Florença, Viena. Durante uma semana habitávamos um só destino: sem dispersões, sem querer galgar quilómetros. Tentámos aproveitar cada uma dessas semanas para, dentro dos possíveis, viver como os habitantes das cidades que visitávamos.
No ano 2001, em boa hora, escolhemos visitar Nova Iorque. Por nenhuma razão em especial, decidimo-nos pela Big Apple e em Março lá estávamos.
Este foi o primeiro contacto com aquela cidade. O início de uma paixão.
Habitámos um loft do número 173 da rua Lafayette, Manhattan, propriedade do jornalista Jeff Magness da Associated Press que se encontrava em viagem pela Rússia e decidira arrendar, por uma semana, a sua própria casa.
Ainda não tinha saído de Brooklyn e já um sentimento especial emanava do meu interior. Nova Iorque não é só Manhattan (apesar desta ser a melhor parte e praticamente a única que conheço), mas também Queens, Brooklyn e o Bronx. O Mayor Giulianni fez questão de expulsar todos os sem-abrigo, vagabundos e criminosos de rua, o que transformou Manhattan numa cidade extremamente segura e, embora não tanto, também os restantes bairros o são.
Nunca nutri particular afecto pelos americanos. Também não sou contra. Reconheço as suas qualidades e defeitos, mas uma coisa é certa: aquele país é único. Mas esta será uma posterior discussão.
Quem já foi aos EUA provavelmente já terá sentido esta sensação: entrar nos Estados Unidos é como entrar num filme. As pessoas falam como nos filmes. As pessoas comem como nos filmes. As casas, os anúncios, os carros são como os dos filmes. As cores são as dos filmes. Os cheiros são os dos filmes.
Quando saí do aeroporto tive o primeiro contacto com um taxi amarelo – cheirava a caril, tinha música indiana e era guiado por um sikh que passou toda a viagem a fazer duas vénias de 20 e 20 segundos, enquanto murmurava umas palavras ao rádio. Ainda hoje não sei porquê.

grich.jpg
foto de Garrett Le Sage

Entrei na ilha de Manhattan pela ponte homónima, vindo do JFK, vendo pela primeira vez o famoso skyline cortando a escuridão da noite. E lá atrás, como pano de fundo, lá estavam elas: as torres gémeas do World Trade Center.
Sempre que vou para um país novo, no primeiro dia fico extremamente nervoso – é a sensação de não ter nenhum controlo sobre nada – sensação falsa, mas aterradora. Em Nova Iorque senti-me logo confortável. Ao contrário do que costumam dizer, pelo menos como primeira impressão, Nova Iorque não era nada aquela cidade fria e (ob)escura como diziam. Era cosy. Mas eu considero-me um ser urbano.
(continua)

30 de julho de 2003

Um pensamento em “Nova Iorque II

  1. Ricardo Ramalho says:

    Hmmm….
    Agora já foi a sério. O início da tua aventura em NY. Tá interessante. Continua! 🙂

Os comentários estão fechados.

"