4 de novembro de 2003
(continuação da entrada anterior)
Se na entrada anterior queixei-me do surripiamento de juventude a que a Capital do Império está exposta, desta vez venho fazer uma ode à Cidade Só.
A solidão dos passos num metro vazio é confrangedora. Sentir as paredes nuas, que não comportam ninguém. As composições arrastam-se lentamente pelos túneis que esventram o subsolo. Ao emergirmos, as ruas, também despidas de pessoas, onde um pequeno sussuro, um leve bater das solas na calçada é brutalmente amplificado, fazendo levantar vôo o bando de pombos que se aninhava a um canto.
Passar as mãos nos corrimões das escadas, ter os prédios todos só para nós. Cada carro que passa é notado e num instante ficamos com a impressão de que conhecemos toda a vida do condutor.
Os ruídos, as correntes de ar, os papéis – tudo desapareceu ou está suavemente pousado no chão. Toda a cidade ganha a intimidade e a pessoalidade de uma casa.
Onde estão todos? E que interessa? Agora é tudo meu.