9 de novembro de 2003
O fim da dicotomia
É habitual dizer-se que só existe o Belo, porque existe o Feio. Todas as caracterizações existem por força de antagonismo. É-o verdade, no caso das comparações.
Quem acredita em Deus, consegue ver na Natureza a maravilha da sua criação. Vê no complexo e intricado processo de funcionamento do mundo, do universo, a beleza divina.
De que o funcionamento do mundo é complexo, todos concordamos. Somos também unânimes em concordar que todo esse maravilhoso processo é belo. E geralmente admiramo-nos quando reparamos nos belíssimos pormenores e como todos eles encaixam tão bem.
O que raramente nos apercebemos é que as coisas só existem tal como estão, o mundo só se apresenta da forma em que está, exactamente porque as coisas encaixam tão bem. Por exemplo: é o processo de empilhamento de tijolos que nos permite criar edifícios. Por mais belos que sejam os edifícios, eles só existem porque se conseguiu desenvolver um processo de empilhamento de tijolos. Podemos admirar esse processo, a sua beleza, mas se não existisse, não haveria edifício.
O que quero dizer, então? É que as coisas existem, não porque o processo que lhe permite existir seja belo, mas porque o processo existe! Vejamos: o mundo tal como é não poderia existir se houvesse um processo feio de o criar. O mundo só existe porque há este processo; que dizemos que é belo! A alternativa a este processo é a não existência. Ou seja, das duas uma: ou o mundo existe, ou não existe. Se existe, só pode ser desta maneira.
Conclusão: o Belo não existe por oposição ao Feio. O Belo existe por oposição à não-existência. O Belo existe, pelo simples facto de haver algo que existe.
O processo de criação pode ser belo, mas do “recriar” de hoje em dia já não se pode dizer o mesmo…
Podes exemplificar, sff?
Eu acredito em deus mas tenho cada vez menos confiança nos homens…
Se o que a natureza produz é belo pelo simples milagre da sua exitencia (com o qual tb concordo) a acção do homem transforma-a introduz a sua marca tantas vezes demasiado avassaladora que me faz perguntar se ainda existe o Belo no seu estado mais puro….
Eu penso que quando se chega ao homem, tudo é mais complicado, porque, por um lado, há destruição causada pela nossa intervenção, mas, pelo outro, pode – e há, a meu ver – em certos casos a criação. Criação da novidade, criação de complexidade, criação efectiva de beleza. Eu acho que sim. Que o Belo existe. Agora, o que é o Belo no estado mais puro? Será que é o imaculado? Se definirmos assim, sim, desapareceu, ou está a desaparecer.
Porém, para mim, o Belo no estado puro não implica a não-intervenção do Homem. E por isso, a meu ver, ainda há o Belo no estado puro. Arrisco mesmo a dizer: Belo que não existiria se o Homem não estivesse por cá….
Se considerarmos a inexistência de um valor para as coisas devido à ausência do Homem, diria que sim, não haveria o Belo…e talvez nem se consiga perceber o seu estado puro, era preciso testemunhar o princípio…quem for mais velho que o Criador que levante o braço 🙂
E o que queria dizer, o Sr. António de cima exemplificou por mim.