18 de julho de 2004

No último post referi que tinha desaparecido o Ministério da Tecnologia. Realmente não tinha reparado que ele deixou de existir desde que o PSD passou a governar, existento unicamente o Ministério da Ciência e Ensino Superior. Não sou especialista na matéria, nem domino qualquer tipo de conhecimentos económicos ou políticos, mas há algumas questões que me parecem a mim evidentes.
O mundo caminha sobre a tecnologia, com a tecnologia, aliado à tecnologia. É mau? Penso que não. Não nos podemos esquecer dos restantes problemas que existem, mas não vejo mal em concentrarmos alguns dos nossos esforços no desenvolvimento e na aplicação da tecnologia. Pode ser que em alguns casos sirva mesmo para ajudar a resolver esses problemas.
Portugal não tem qualquer política de tecnologia. E não penso que o turismo tenha mais valor que a tecnologia. Para mim é iludir o povo. Não digo que o turismo não seja um produto importante que Portugal possa vender melhor do que o que vende, mas não creio que isso seja a grande solução. Ciência e Tecnologia: a resposta? Talvez seja de louvar um ministério com este nome (e que faça alguma coisa nas duas áreas), mas não se devem confundir as coisas. Ciência é descobrir. Tecnologia é aplicar ao mundo as descobertas. E a distinção deve ser muito clara. O exemplo mais flagrante de aposta na tecnologia talvez seja o da Finlândia (Castells, M.; Galáxia Internet).
Harvard, a conhecida universidade americana, por onde passaram sete presidentes americanos e donde sairam quarenta prémios Nobel prepara-se para mudar os seus programas escolares. A proposta diz: qualquer estudantes de perceber as notícias e os artigos expositivos de revistas como a Science ou a Nature. Não se pode aceitar a ideia de que alguns estudantes não são capazes de aprender ciência, tal como não se pode aceitar a ideia de que outros são incapazes de aprender matérias das humanidades e ciências sociais. Na minha interpretação (e porque penso que são mais os casos de incapacidade de compreensão de assuntos científicos para quem tem formação humanística do que da situação inversa) este é um claro sinal da importância que tem a compreensão um pouco mais do que básica da ciência no dia-a-dia. E porquê? Não será certamente porque as pessoas vivem mais felizes se estiverem inteiradas destes assuntos, é-o porque a ciência toma cada vez mais (e muitas vezes de forma imprevisível, caso da internet) parte das nossas vivências correntes e fá-lo através da tecnologia. Não podemos viver às escuras.
Não só não podemos viver às escuras como não podemos viver só dos outros. Temos que criar riqueza. Volto a dizer que de economia pouco ou nada sei, mas acho que não é a economizar os poucos tostões que temos que vamos ficar ricos. Mas voltando um pouco atrás: sou defensor de que o Estado deve dar muito pouco, ou mesmo nada. Na minha concepção o Estado não existe para alimentar o povo. Existe para servir o povo. Como qualquer prestador de serviços, deve ser pago. E o serviço é gerir o nosso dinheiro, alguns aspectos da nossa vida e orientar o país. E é só isso. Por isso não concorde que o Estado esbanje dinheiro (faço notar que gastar dinheiro e esbanjar dinheiro não são sinónimos). Por isso fico contente por alguns políticos terem compreendido (talvez ainda não na totalidade, mas por ventura ainda não houve tempo para tudo e para lá caminham) que o Estado não deve esbanjar dinheiro. Mas como disse atrás, mesmo que bem geridos, não são os nossos tostões que nos vão fazer ficar ricos. Há que criar um plano de acção, que nos dê um desígnio.
Éramos (somos?) dos maiores produtores de cortiça a nível mundial. O que fizeram aqueles que não podiam competir com a nossa produção? Criaram alternativas. Coisas que podem ser tão simples como a rolha de plástico podem arruinar um país.
Como disse ontem à noite Paulo Portas na Madeira (e não tenho aqui as citações exactas, porque os jornais a esta hora ainda não publicaram e ouvi na rádio, no carro), querem pôr Portugal no caminho da modernidade. Acho muito bem. Mas acho que não vamos lá sem uma aposta clara na tecnologia (como salientou o novo Primeiro-Ministro na sua primeira entrevista no exemplo que deu do eGovernment – ideia que não considero assim tão disparatada como a maioria diz).
E é por isto que acho que a Tecnologia é mais importante que o Turismo.

18 de julho de 2004

15 pensamentos em “Tecnologia

  1. João Paulo Silva says:

    Mas a aposta na tecnologia pode haver. Porque é que não pode haver?
    Achas que neste momento Portugal precisa dum ministério exclusivo para a tecnologia? É preciso primeiro criar estruturas, meios, condições e pessoas competentes!
    Neste momento não tenho dúvida que faz mais sentido o Ministério do Turismo.
    Atenção, que a Tecnologia não é tudo! Portugal se calhar tem outras coisas em que deve apostar antes da tecnologia!

  2. Não vejo assim tantas coisas como isso. Só vejo três: a educação, a justiça e a reforma da administração pública (incluindo a tributação fiscal).

  3. João Paulo Silva says:

    Acho a tecnologia importante e que deve ser desenvolvida, sem dúvida! Mas para teres retorno nessa aposta é preciso tempo e MUITO investimento (pelo menos no nosso caso)! Por isso acho que neste momento há outras prioridades! Há outras actividades que investindo muito menos podem dar mais para portugal a curto prazo!
    Niguem disse que o turismo tem vmais valor que a tecnologia, ninguém tentou iludir o povo! Acho que andas a ver outras televisões!
    A tecnologia que se comece a apostar gradualmente! Quando houver condições que se aposte com mais força!
    Disseste que “Ciência é descobrir, tecnologia é aplicar ao mundo as descobertas”. E inovação é o que?

  4. André Neto says:

    “É triste que se fale sem saber”
    Pois é João, é mesmo triste…
    Há muitas coisas que não se falam, ou discutem nas tuas televisões…Em Portugal é urgente investir seriamente na tecnologia, porque isso do investimento a curto prazo nunca funcionou, nem vai funcionar.
    Para que saibas há empresas em Portugal que produzem tecnologia de ponta, geram protótipos e ideias de uma qualidade fenomenal. Se não fosse pela vontade, ambição, arte e engenho das pessoas que se encontram à frente destas empresas, os nossos cientistas, investigadores, engenheiros e ténicos não teriam praticamente reconhecimento a nível internacional.
    Fica a saber que há condições, há pessoas com o conhecimento e tenho a certeza que com um pouco de esforço e dinheiro facilmente conseguiamos dar um grande salto. Para que saibas o nosso Portugal é um grande exportador de “know-how” e infelizmente o que continua a acontecer nos dias de hoje é mais ou menos o que acontece na Índia, ou seja, somos um país “exportador de cérebros”.
    Inovar:
    do Lat. innovare
    v. tr., tornar novo;
    mudar ou alterar as coisas, introduzindo-lhes novidades;
    renovar.
    Garanto-te que não é com medidas a curto prazo que vais Inovar.
    “A tecnologia que se comece a apostar gradualmente! Quando houver condições que se aposte com mais força!”
    Desta tua afirmação só posso concluir que te encontras a anos luz de distância da verdadeira realidade do país….

  5. João Paulo Silva says:

    André Neto ou és mágico ou tás na posse do milagre da multiplicação dos… euros! 😉
    Só te pedia que me explicasses como é que um País, no estado em que está, pode ficar dependente de um investimento a médio/longo prazo! Toda a gente sabe que Portugal já fez coisas singnificativas a nível tecnológico! Há casos que todos conhecem. A via verde por exemplo… Somos um bom fabricante de componentes mecânicas! Há outras coisas que são menos conhecidas, temos várias pessoas a ganharem prémios importantes, por alguma razão é!E tem havido algum retorno? Não! Óbvio porquê! Porque não temos condições! (se temos, só te peço que me ilustres essas condições). Exportamos cerberos, pois é! Porquê? Porque não temos condições! 😉 Ou achas que se tivessemos as condições que oferecem os Estados Unidos ou outro país qualquer com forte investimento cientifico/tecnológico as pessoas sairiam de Portugal? E não me refiro só a condições físicas mas também a condições financeiras! Por isso volto a afirmar que não temos condições nem estruturas sólidas que tornem viável o desenvolvimento tecnológico sustentável sem um grande investimento.
    Ninguém disse que é possível inovar a curto prazo! O que queria dizer era que inovação pode ser uma aplicação da ciência na tecnologia! Isto só para dizer que a tecnologia será considerada num ministério. Mas tu estás a misturar tudo!
    As medidas a curto prazo são para possibilitar aposta em medidas a longo prazo! Neste momento, as prioridades não devem ser essas. Acho que no resto deste mandato não faz qualquer sentido apostar forte na tecnologia sem ter uma economia minimamente estabilizada e sem ter as pessoas a conseguirem sobreviver durante os 12 meses por ano!
    Em suma, as coisas não podem ser vistas de forma independente. Isto não é um jogo. É preciso ganhar dum lado para por no outro! Não podes viver só de medidas a longo prazo nem só de medidas a curto prazo! Para apostar em medidas de longo prazo (que não tenho dúvida serão aquelas que mais desenvolverão o País), é preciso ter uma base estável! Tão simples quanto isso…
    Não sei se serei eu que estou a anos luz do País ou se serás tu familiar do Bill Gates!

  6. É claro que é preciso investir para se conseguir resultados. Mas será que só o investimento é que resolve os problemas? A meu ver esse é um dos erros de mentalidade, já que muitos passos podem ser dados antes, como por exemplo estabelecer o diálogo entre universidades e empresas, ou mesmo convencer as empresas de que desenvolver as soluções pode sair mais barato do que as comprar.
    Como ambos disseram, há vários casos exemplares e saliento como exemplo sistema CAD de desenho de sapatos. Mas também há muito boas coisas que são feitas nas universidades, que se fazem de costas voltadas para a realidade. Essa aproximação não tem de ser necessariamente dispendiosa. Como também disseram, é preciso tempo, portanto não há tempo a perder.
    E em comparação com o turismo, podemos criar estruturas que nos permitam ter voz no rumo das coisas. É pouco provável que aconteça a curto prazo, mas, como se sabe o turismo é muito de modas, o que aconteceria se fosse moda ir para o polo norte no verão. Lembro (se não me falha a memória) que só para o Euro foram gastos pelo Estado 16 milhões de contos em divulgação e publicidade, para um evento que só por si já tem a divulgação que tem (rendimentos do turismo – de e estrangeiros – em 2002 segundo o Eurostat: 750 milhões de contos).
    Só mais uma pergunta, qual foi investimento que levou ao sucesso da Microsoft (que por pena, não é dum parente do André)?

  7. André Neto says:

    Longe de mim ser um entendedor dos mistérios dos ministérios, mas não me parece , tal como disse o Francisco, que o investimento seja só económico, passa antes por uma reforma (e esta sim a curto prazo 🙂 ) das mentalidades. É urgente aproximar cada vez mais as universidades e a investigação das empresas, é imperativo maior reconhecimento da investigação nacional por parte das autoridades competentes, é necessário alterar algumas prioridades.
    Não me considero uma pessoa utopista e tenho perfeita consciência que o factor dinheiro é importante, tanto para os trabalhadores, como para os investidores…mas muitas vezes o problema não está na quantidade de dinheiro gasto, mas na forma como é gasto, no mau planeamento e gestão do nosso dinheiro.
    Investir na tecnologia, é também investir seriamente num ensino superior com maior qualidade, mais planeado, mais organizado, coisa que ainda não vi acontecer com qualquer governo. Têm havido inúmeras reformas, mas poucos resultados, ou não estão de acordo?
    Felizmente tenho tido até hoje uma estrelinha da sorte, que me tem acompanhado desde sempre, quando terminei o curso encontrei um bom trabalho e sinto que estou a fazer aquilo que realmente gosto, mas quando falo com muitos amigos sinto que sou quase uma excepção, vejo o quanto é para eles duro trabalhar naquilo que realmente gostam e serem tão pouco recompensados a todos os níveis.
    Para finalizar e em jeito de piada seca, já que falamos tanto em poupar, se fizessemos como no Brasil em que o Sistema Operativo nas faculdades é o Linux, era possível poupar uns bons milhares de contos em licenças da Microfoft 😉

  8. Elsa Abreu says:

    Vocês precisam é de se juntar à volta de um café para discutir isso tudo!
    Mas voltando ao tema da discussão, acho que todos concordamos com o facto de que a tecnologia e o investimento na tecnologia são importantes, ainda para mais num país que se está a tentar inserir de forma mais activa na Europa e no resto do “mercado económico internacional”. O crescimento económico não pode deixar de parte as inovações, nem sequer faz sentido falar assim. Mais importante que manter um défice que respeite os acordos europeus, é conseguir produzir, mas produzir no sentido inovador do termo. Não basta ser um país onde se investe, é importante ser um país que investe, e para tal é indispensável apostar no desenvolvimento científico e tecnológico.
    Mas até aqui acho que estamos todos de acordo.
    A outra questão é saber se o facto de existir um ministério da tecnologia pode ser de alguma utilidade nesse desenvolvimento, ou se ele pode ser feito de forma independente. Na minha opinião há um pouco de ambos. É importante haver um apoio e uma vontade governamental que impulsione o movimento mas sem investimentos privados não se faz nada. A época do Estado-Providência acabou e, de certa forma, ainda bem. Como tu próprio, Chico, o disseste, o estado não é suposto andar connosco ao colo, mas antes ser um moderador, um coordenador daquilo que se faz, um gestor das iniciativas individuais.
    Não sou apologista de que a situação se torne tão marcada como nos Estados Unidos mas eles são sem dúvida um exemplo a ter em conta, quanto mais não seja pelo nível de desenvolvimento tecnológico que conseguiram atingir. É verdade que a sua capacidade de inovação é baseada em larga escala numa comunidade científica estrangeira, mas essa comunidade escolheu trabalhar lá porque lhe são dadas condições que são, temos de admitir, fabulosas. E não é o “ministério da tecnologia dos Estados Unidos” que impulsiona a investigação e o desenvolvimento tecnológico. Isso tem mais a ver com o facto das universidades não terem medo de perder a sua identidade e o seu papel de formação ao aceitarem trabalhar com empresas, tem a ver com investimentos privados, e tem a ver também com uma mentalidade diferente da população que percebeu que, apesar de à primeira vista mais perigoso, o capital investido acaba sempre por ser mais rentável que o poupado, já que o desenvolvimento tecnológico está intimamente ligado ao económico.
    Resumindo, um ministério da tecnologia, a meu ver, não chega, mas é um começo. Tem pelo menos o mérito de chamar a atenção das pessoas para a importância do desenvolvimento tecnológico para o país. Mas por essa ordem de ideias um ministério do turismo também não é assim tão mal pensado. Pode ser que obrigue a rever coisas que podiam estar muito melhores a esse nível!

  9. João Paulo Silva says:

    Vamos lá ver se consigo organizar isto de modo a não ficar muito confuso.
    0) Em relação ao turismo é certo que é por modas, mas as praias nunca sairão de moda! Podes-me dizer que há mais praias por aí, ok, mas também há muitos turistas. Uns dados que encontrei na net:
    – Em 2000 as receitas do turismo representaram 5% do PIB nacional. A incidência directa e indirecta do Turismo, todavia, será da ordem dos 8% do PIB;
    – Portugal foi em 2000 o 16º destino turístico mundial com 12 milhões de turistas;
    – A OMT prevê que em 2020 Portugal se torne o 10º destino turístico com 44 milhões de turistas.
    Se o turismo é actualmente uma das grandes fontes de receita portuguesa porque não criar estruturas para maximizar esse lucro a tempo imediato (e também no futuro)? Também não sou a favor de vivermos só do turismo, mas sou a favor de vivermos TAMBÉM do turismo! Olha os U2 na Irlanda… olha a política de exportação cultural (musical essencialmente) da Islândia!
    1) A quantidade de dinheiro não é, de todo, proporcional aos resultados obtidos. Isso acho que estamos todos de acordo. E há vários exemplos. No entanto para apostar na tecnologia em Portugal parece-me, e se estiver errado corrijam-me, que nos faltam para além dessa organização que falam (porque não existe qualquer estrutura nesse sentido) condições físicas, estruturais para passarmos de projectos à prática. Por isso aqui ter-se-à mesmo que investir bastante para termos bons resultados que não serão a curto prazo como é óbvio.
    2) Em relação ao ensino, que todo ele tem de ser melhorado, mais exigente, mais estruturado, etc., acho que também devemos estar todos de acordo. Criar essas ligações entre universidades-empresas é importante. E por ser importante e estar tão intimamente ligado o ensino superior com a ciência e a tecnologia (inovação) não me parece nada mal estar um ministério responsável por essas áreas. Agora, essas reformas trarão pouco a nível produtivo se não houver um investimento (e este financeiro) paralelo!
    3) Acho que não há muitas dúvidas que o capital investido acaba por ser mais rentável que o poupado! Sem dúvida! É preciso é haver margem para investir! Isso foi a grande crítica ao Governo! Quando há uma falta de investimento privado tem de ser o Estado a equilibrar as coisas e a investir. No entanto também é óbvio que quando há desafogamento financeiro deve-se investir mas manter uma margem que nos sirva em situações de sufoco como aquela por que passamos! E isso, quando foi o que não aconteceu, não só se esbanjou dinheiro, como não se investiu de forma cuidada e com algum objectivo e retorno, nem se quer se manteve uma margem para situações críticas! Como é que é possível investir neste momento a longo prazo? É esta a questão! E é aqui que tenho de discordar da Elsa! Não podemos ver as coisas descontextualizadas! Mas eu não sou economista, nem percebo muito disso, é o que oiço, o que falo, o que me explicam…

  10. Concordo contigo em quase tudo até meio do ponto um, mas depois dizes: “parece-me (..) que nos faltam para além dessa organização que falam (…) condições físicas, estruturais para passarmos de projectos à prática”. A questão é exactamente essa.
    É certo que estamos numa época má para poder investir. É certo que o desenvolvimento tecnológico precisa de dinheiro (e em algumas situações muito).
    Mas o problema é que, a meu ver, não há qualquer plano de desenvolvimento tecnológico. Não existe nenhuma estratégia nacional a nível da tecnologia e da sua aplicação. E como não se fazem (ou não se deveriam fazer) investimentos sem uma estratégia definida, esta é uma boa altura para fazê-lo, já que não é aí que se vai gastar a grande fatia do dinheiro a investir.
    É meramente isto que eu digo. Está na altura de se começar a pensar no assunto a sério, de envolver toda a gente. Não é apenas uma reforma. É, a meu ver, uma das mais importantes decisões a tomar, um dos mais importantes planos a elaborar.
    Também não concordo inteiramente quando dizes “(..) essas reformas trarão pouco a nível produtivo se não houver um investimento (…) paralelo!” Não que o dinheiro não seja necessário (e a certa altura será mesmo muito importante), mas hoje em dia já há algum dinheiro a ser gasto em investigação desligada do mundo empresarial, assim como há muitas empresas que não conseguem falar com as universidades. Dinheiro que muitas vezes é sub-aproveitado ou mesmo desperdiçado. E esse já foi e está agora a ser investido.
    Resumindo, é por isso que acho que a aposta na Tecnologia tem sido muito fraca e porque, sinceramente, acho que é a aí que está talvez o único caminho possível se nos queremos posicionar no mundo de forma a ter alguma palavra a dizer. E definitivamente, a aposta no turismo, não é, muito embora seja uma boa fonte de rendimentos que não deva ser descartada. A não ser que nos queiramos posicionar no mundo como destino de férias dos outros. Aí tudo bem e se o povo o quiser, que se faça.

  11. Elsa Abreu says:

    Sim, eu acho que é mais por aí.
    Naquilo que disseste, João, não concordo principalmente com uma coisa. No terceiro ponto dizes que não há, e não haverá tão cedo, verbas disponíveis para o desenvolvimento tecnológico e que por isso devemos começar por criar essas verbas para as podermos usar quando a situação económica tiver regressado a um nível mais seguro.
    O problema é que essa estabilidade na situação económica só é possível se houver alternativas de crescimento, alternativas essas que, no mundo actual, passam por inovações, caso contrário estamos sempre dependentes dos outros (um pouco como acontece com o turismo). Não é possível “aguentar” economicamente um país se ele não tiver uma forma de se auto-sustentar.
    Porque é que as pretensões da Madeira à independência são ridículas? Para além de serem essenciamente fruto da imaginação de um dirigente no mínimo caricato são ridículas porque não têm em conta a realidade do arquipélago que não conseguiria sobreviver sem os apoios financeiros do continente. E porque é que isso não é possível? Porque eles não têm fontes internas de produção, tirando talvez o turismo e os ananases, o que não é propriamente uma fortuna.
    A nível do país em geral a situação é um pouco a mesma. Concordo quando dizes que para já não há dinheiro. É verdade, não há, não vale a pena tentar tapar o sol com a peneira, o país continua de tanga, talvez a marca da tanga seja melhor mas não deixa de ser uma tanga. E é aí que entra o que eu tentei explicar no primeiro comentário: é necessário arranjar formas de “produção de tecnologia” com o mínimo de investimento do estado porque o estado está sem dinheiro para investir (em geral, e nessas áreas em particular). E o investimento privado, nomeadamente ligado a empresas, torna-se essencial neste ponto. De facto, numa primeira fase, pode ser possível, como disse o Chico, fazer uma parte do trabalho sem gastar muito ou aproveitando melhor o que se gasta, mas isso não chega e acho que o estado não pode ser considerado o único culpado disso. Culpados são os que têm a possibilidade de fazer alguma coisa, por terem influência, conhecimentos ou possibilidades de investimento no desenvolvimento científico e tecnológico, mas que estão demasiado ocupados a manter o tacho ou que simplesmente não estão para aí virados e preferem garantir uma reforma confortável para eles próprios, sem pensarem na dos filhos. (Desculpem o tom mas às vezes apetece!)
    Mas como já se disse e repetiu, isto é a opinião de alguém sem experiência nenhuma em economia e apresenta provavelmente muitos pontos que são na prática inaplicáveis.

  12. João Paulo Silva says:

    Acho que temos algumas ideias diferentes, mas o essencial é igual! Acho que todos concordam que Portugal deve investir na tecnologia. Eu só acho que neste momento há outras prioridades. E da mesma forma que acho que Portugal não se deve satisfazer só com o turismo, também acho que não se deve satisfazer com o turismo e a tecnologia! Há mais onde podemos investir, como p.e. a música ou a roupa…
    Em relação ao que a Elsa disse, numa crise como a actual acho que todos os Países sentiram o seu efeito! Há factores externos que são complicados evitar. No entanto acho que conseguimos estabilizar as finanças sem o tal investimento na tecnologia. Se olharmos para trás, bastava ter havido uma aplicação menos esbanjadora do dinheiro e eramos capazes de agora estar a passar melhor por esta situação! No entanto o investimento na tecnologia será bem vindo, não só na vertente financeira como na vertente evolutiva no próprio País e possivelmente no Mundo. O problema, e é aqui que as nossas opiniões diferem, acho que não há margem para investir forte a médio-longo prazo nestes próximos dois anos. Mas também sou um leigo em economia. De resto… que se invista na tecnologia, no turismo, na música…
    Curiosamente, hoje o Todo Poderoso Marcelo Rebelo de Sousa (que eu até gosto bastante dele), além de ter enterrado literalmente o novo Governo (algumas coisas até concordo, mas só algumas), apresentou um projecto enviado por 4 alunos do IST por causa da questão dos famosos “railes” de que os motars tanto “gostam”! Só apanhei a coisa no fim, mas o projecto era qualquer coisa como uns railes feitos através de borracha de pneus velhos, pelo que ouvi já fizeram experiências e dizem que é funcional. Acho que iam apresentar a uns deputados ou qualquer coisa do género. Se alguem ouviu que transmita a mensagem mais ao promenor!
    Realmente, quando se quer, não há dinheiro nem programa que impessam as coisas de irem para a frente! E aqui tenho que vos dar razão, com um melhor plano de cooperação entre empresas e universidades poder-se-à ter algumas vantagens. Para estas estruturações, e voltando aos ministérios, acho que o “responsável” mais indicado é o ministério do ensino superior!

  13. Só os ingénuos podem crer que uma discussão visa resolver um problema ou esclarecer uma questão difícil. Na realidade, a sua única justificação é testar a capacidade de os participantes derrubarem o adversário. O que está em jogo não é a verdade, mas o amor próprio. O bem falante leva a melhor sobre o que tartamudeia, o temerário sobre o tímido e o arrebatado sobre o escrupuloso. Estar de boa fé equivale a potenciar as desvantagens, porquanto os escrúpulos se somam à circunspecção, dificultando a expressão. O que é a boa fé? Uma conduta de fracasso, um autêntico suicídio… Quem participa em debates fala sem escutar, espezinha qualquer raciocínio que não seja conduzido por si próprio, despreza as oposições, ignora as obstrucções e, de certo modo, conquista a vitória à força de palavras.
    Cultiva a má fé com o profissionalismo do jardineiro que cria uma planta venenosa cujo veneno possui suavidades tão profundas que quem o prova já não passa sem ele. Para dar melhor resultado, a má fé não deve ser demasiado subtil. Com efeito, o seu impacte não será suficiente para desnortear o outro, rápida e duradouramente. Nesta matéria, a subtileza não substitui a brutalidade que, não obstante a detestável fama em certos meios intelectuais, dá resultados mais seguros num prazo de tempo nitidamente mais curto. Mais vale tirar o bocado, sem modos, à semelhança de Porthos, do que arrastar a decisão. fazendo cerimónia, à moda de Aramis.
    Georges Picard, in “Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão”
    Tive de pôr isto aqui…

  14. André Neto says:

    Acabei agora de reler os 13 comentários e acho que o essencial já foi discutido e penso que daqui para a frente pouco se pode acrescentar, a continuar seria só pelo prazer da dialéctica (“uma forma não demonstrativa de conhecimento” (Aristóteles)), ou seria antes da retórica (“discurso brilhante de forma, mas pobre de ideias”)?

  15. bernardo says:

    Eu acho que Portugal está muito bem economicamente. Até tem dinheiro para comprar submarinos de ponta!

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