8 de maio de 2006
Confesso, tenho particular interesse no que se vai passando com o petróleo nos dias que correm. Não é recente, nem é a primeira vez que falo disso aqui. Não tenho formação nenhuma em economia, portanto o que aqui vai é mero produto de observação. Pouco vou especular, apenas reportar o que vejo e pôr algumas preguntas.
Porquê o interesse? Por duas razões: a primeira, porque hoje em dia a principal fonte energética mundial é o petróleo (e derivados/associados), portanto produto basilar da indústria e dos transportes; a segunda, porque o fim do petróleo é algo anunciado, pelas questões estruturais, do fim do recurso, e pelas questões ambientais.
Nos últimos anos a procura de novas fontes energéticas, especialmente as limpas, intensificou-se: as energias renováveis têm vindo a crescer. Porém a sua área de intervenção é bastante reduzida e, actualmente, a única alternativa viável ao petróleo é a nuclear. Talvez mais importante que os avanços nas novas energias (não que não seja necessário estudá-las, mas apenas porque ainda não se afirmaram como substitutos viáveis) seja a melhoria da eficácia de consumos, bem como o melhoramento das políticas de uso racionado. Há quem diga que esta é a única alternativa, enquanto não se consegue substituir o petróleo.
Mas a China e a Índia ameaçam o equilíbrio. Crescem e industrailizam-se como se não houvesse amanhã (ou seja, também eles querem um amanhã como o que estamos a ter). Os seus consumos energéticos são brutais. Não podemos pô-los na posição de maus da fita, porque não o são: só os E.U.A. consomem 1/4 dos recursos energéticos mundiais; eles só querem ter direito ao que nós temos. Mas a verdade é que perturbam o estado das coisas.
Vamos olhar para alguns dados. No gráfico abaixo podemos ver três curvas: a azul, os preços em USD/barril do petróleo Brent negociado em Nova Iorque, reportados pelo Wall Street Journal; a verde, o preço em EUR/litro da gasolina 95 em Portugal (antes meados de 2003, média mensal); por fim a vermelho, um ajuste de uma função exponencial aos preços do petróleo, com uma extrapolação até 2007. Esta última curva foi feita por mim, com um ajuste livre de uma exponencial aos dados. Não segue qualquer regra de tratamento estatístico ou financeiro e por isso não tem valor estatístico nenhum para além daquilo que ela é: uma semelhança funcional. Antes de analizarmos o que está no gráfico, uma pequena informação. O record dos preços do petróleo foi batido aquando da crise dos anos 70 do século passado, quando o príncipe Faisal embargou a sua produção ao mundo ocidental. Na altura foram atingidos preços de quase 40 dólares o barril. Hoje já superámos isso em valor numérico, mas em valores corrigidos pela inflação, segundo a CNN, os preços de então seriam equivalentes a cerca de 84 dólares/barril em 2004. Assim em termos de custos, ainda não atingimos os records, mas estamos quase.
Vejamos então o que está no gráfico. Mostra-se desde Outubro de 1997 o preço do barril de Brent. A partir de Novembro de 2001 a súbida, em média, é constante e, a partir de meados de 2003, segue, aproximadamente, um crescimento exponencial. Nos últimos três anos, o preço passou de cerca de $25 para aproximadamente $75, ou seja, praticamente triplicou em três anos. A curva a vermelho não significa nada, para datas depois do dia de hoje, para além de que, se o comportamento se mantiver, os preços daqui a um ano serão sensivelmente de $95. Mais uma vez, esta não é uma previsão cientifica e economicamente válida, apenas segue a tendência dos últimos três anos. Quanto ao preço da gasolina 95 em Portugal, a curva é muito semelhante à do preço do petróleo em termos de forma. Mas atentemos a diferenças específicas. Como já referi, de Abril de 2003 à mesma altura de 2006, o preço do Brent sensivelmente triplicou. E a gasolina? Bem, passou de cerca de €0,95 para €1.30. Um aumento de pouco mais de um terço. Aqui começam as minhas perguntas.
Porque é que se uma matéria-prima triplica de preço, o produto final nem sequer duplica? Ainda para mais tendo em conta que esta não é uma matéria-prima qualquer, isto é, não é como o cobre para indústria da electricidade, uma vez que o petróleo influencia os transportes, a indústria dos plásticos e toda uma cadeia vastíssima, basilar da nossa sociedade, que dele depende.
Actualmente sempre que há um aumento de petróleo as justificações na imprensa são invariavelmente as mesmas: ataques na Nigéria, instabilidade no Médio Oriente, catástrofes naturais, “driving season” nos EUA, “heating season” na América do Norte. Segundo o Público, os especialistas calculam que cerca de $20-$25 do preço actual do barril seja especulação. Muito bem, mas isso é cerca de um terço do preço; é muito, mas explica tudo?
Quem está a perder dinheiro? As petrolíferas? Os intermediários? Será que a cadeia até ao consumidor está a reduzir os seus lucros? Se sim, das duas uma, ou tinham lucros estupidamente astronómicos até 2000/2003, ou estarão a atingir os limites do lucro?
E se tudo não é uma mera questão económica, mas sim de recursos? Será que estamos agora mesmo a assistir ao fim do petróleo? Isto é, não ao fim do recurso natural na Terra, mas sim chegámos ao pico de produção e de extracção do petróleo? Isso é catastrófico, porque o consumo não diminui, pelo contrário, está a aumentar brutalmente. Mais uma vez relembro, a minha perspectiva é de um mero observador sem qualquer formação em economia. As perguntas são as de um mero curioso.
Incluo também um gráfico com a percentagem de impostos no preço final ao consumidor da gasolina 95 em Portugal e na União Europeia para comparação.
Por fim uma última constatação. Com a base da nossa sociedade consumista a triplicar de preço nos últimos três anos, a inflação não registou súbidas significativas para além do normal (ver Eurostat e INE). Ainda hoje, as previsões do Banco Central Europeu dizem que o preço do petróleo não compromete a retoma europeia. Como não?
Jasus!
Bom, confesso que n deu pa ler esta cena tda q aqui meteste, mas sem duvida que deve ser isso exactamente q s ta a passar!
E pronto, foi esta a minha modesta participação…