31 de março de 2008
O meu pai faria hoje cinquenta e nove anos. Se tivesse sobrevivido.
Morreu, fará em julho próximo dez anos, em plena altura da Expo 98. Não foi assim há tanto tempo, mas foi há imenso tempo. Na minha imaginação o meu pai ainda tem mais uns trinta ou trinta e cinco centímetros do que eu, o que se fosse verdade, faria-o ter mais de dois metros de altura. Eu sei que não era assim tão alto, mas foi a imagem com que fiquei.
O meu pai usava bigode. Já na altura não era assim tão comum, mas interrogo-me se hoje o usaria. Na altura eu não tinha telemóvel; nem eu, nem o meu irmão, nem a minha mãe. A internet ainda era por modem, dos mais lentos, de 56k, e o mp3 começava a ser uma coisa grande. Se tivesse sobrevivido, talvez hoje andasse no Porsche que sempre quis ter. Ou talvez não. Mas de certo que continuaria a ser o elemento aglutinador nas piquenicadas de verão, na serra de Arga, ou noutro lugar igualmente belo do Minho.
O meu pai era uma personagem que impunha respeito, mas emanava uma grande calma. Calma essa que era assustadora, quando entrava no nosso quarto nos sábados de manhã em que fazíamos uma barulheira que não deixava dormir ninguém, com o propósito de nos fazer calar, mas sem levantar um bocadinho que fosse o tom da voz.
O meu pai morreu de repente, deixando à minha mãe grande parte do trabalho de nos educar e levar a bom porto. Daquilo que mais tenho pena é das coisas que não nos viu viver. Disso e da memória, que desvanece. Porque é inevitável.
Não sei o que dizer, embora me apeteça dizer algo… Principalmente quando vejo dia-a-dia o meu próprio pai desvanecer e perder faculdades.
Deixo-te um abraço.
Fica bem. =)