16 de outubro de 2008
Há dias, o prémio Nobel da Química foi atribuído a três investigadores pela descoberta da proteína verde fluorescente GFP) e do estabelecimento da técnica para a sua utilização como sonda na investigação em biologia celular. O que é a GFP? É uma proteína que tem uma propriedade interessante, brilha com luz verde, quando é estimulada por radiação ultravioleta.
Esta propriedade é muito interessante por vários motivos. Em primeiro lugar, nenhuma proteína de um mamífero brilha assim. Deste modo, se se injectar GFP, ou se se fizer ligar a outra proteína, consegue-se saber onde ela está, inclusivé ao nível subcelular. O mais interessante, evidentemente, não é saber exactamente onde ela está, mas sim, outras proteínas que possamos ter interesse e que as “marcámos” com a GFP. Esta marcação pode ser feita com anticorpos, moléculas que fazem uma ponte entre a GFP e a proteína de interesse.
Mas com a evolução da genética, passou a ser possível colocarmos o gene que a codifica onde quisermos. Assim, podem-se criar proteínas híbridas, isto é, proteínas que já vem com a GFP agarrada a uma ponta, dispensando assim do uso de anticorpos, e, melhor, a GFP é produzida pela própria célula ao mesmo tempo que constrói a proteína a que ela está agarrada. Colocando o gene da GFP perto de um gene que queremos estudar, também permite que saibamos quando é que esse gene está a ser transcrito, ou “lido” pela célula, uma vez que o gene da GFP também vai ser lido e portanto a proteína produzida passando a célula a ficar verde! É assim que se produzem porcos fluorescentes [1]:
Hoje em dia já há várias proteínas de diferentes cores e aqui fica um filme de células que expressam proteínas verdes e vermelhas, de forma cíclica (ligado ao ciclo celular). De notar que o amarelo surge quando as duas proteínas coexistem na célula [2].
Mas na vida há azares e esta história, em parte, é dum azar monumental. Ora acontece que a pessoa que isolou o gene da proteína não está entre os três vencedores do prémio Nobel. Não só não está entre os premiados, como nem sequer é cientista; e não pelas melhores das razões. Ora, nos anos noventa Douglas Prasher isolou o gene e forneceu-o a quem lho pediu. Pelo menos duas dessas pessoas estão entre os galardoados. Prasher não recebeu financiamento para os seus trabalhos e acabou por abandonar esta linha de investigação. Mais tarde quando trabalhava para uma empresa subcontratada da NASA, cortaram-lhe novamente o financiamento – a NASA cancelou o projecto – e foi despedido. Hoje, azar dos azares (ou será outra coisa?), sem poupanças, é motorista dum shuttle para clientes de um stand de automóveis, em Huntsville, Alabama.
A história tem criado comoção e discussão na comunidade científica, uns indignados pelo comité Nobel não ter incluído Prasher entre os nomeados (ao que parece, o número máximo de vencedores é três), outros desiludidos pelo desperdício de talento e, talvez mais importante, a interrogação sobre se um dos valores fundamentais da ciência – o altruísmo em relação ao conhecimento – é posto em perigo: Prasher deu e acabou por ficar sem nada.
Referências e mais informação
[1] – Glowing with pride
[2] – Sakaue-Sawano, A. et al.; Visualizing Spatiotemporal Dynamics of Multicellular Cell-Cycle Progression
[3] – Glowing Gene’s Discoverer Left Out Of Nobel Prize
[4] – Wikipedia
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ACTUALIZAÇÃO: a ler, no NYT.