10 de junho de 2009

O governo Sócrates, reconheçamos, não foi um bom governo. Não terá sido terrível e houve algumas coisas que funcionaram, mas não foi um bom governo.
O Simplex foi uma boa medida; a reorganização do sector da saúde começou bem; alguns aspectos da renovação das escolas e do ensino também estiveram, inicialmente, na direcção certa; as medidas paliativas da Segurança Social preveniram o colapso a muito curto prazo; parte da consolidação orçamental foi conseguida.
No entanto, a verdade é que tudo isto foi pouco. Não pela quantidade, mas pela qualidade. Foi pouco aquilo que foi devidamente conseguido, aquilo que verdadeiramente chegou ao fim; não se reformou verdadeiramente. No essencial as reformas da educação, da administração pública e da justiça ficaram por cumprir. Já aqui disse, em várias ocasiões, que não gosto do eng. José Sócrates. Divergências de estilo à parte, julguei que o seu empenho fosse suficiente, mas a verdade é que não o foi.
Sócrates é arrogante. A arrogância tem várias formas e feitios. Ora veja-se José Mourinho: é sabido que há muitos que não gostam da sua atitude, da altivez e da embófia, mas a conferência de imprensa em que enfrentou os ingleses e se auto-intitulou o “Special One” ficará na História e é provavelmente a maior provocação lusa aos britânicos desde o mapa côr-de-rosa e dessa eles riram-se. No entanto, para além dessa arrogância, há uma inteligência que tem tanto de bruta, como de brilhante. Mais, é toda uma atitude que nos motiva e que nos dá garantias. E é essa combinação que faz com que todos nós, gostemos de Mourinho ou não, todos nós o queiramos ter do nosso lado, na nossa equipa. Com Sócrates já não nos sentimos assim, deixamos de ter o rochedo ao nosso lado. É antes… qualquer coisa que não sabemos bem o que é.
Parte desse sentimento deve-se ao facto de que, apesar de o reconhecermos o como um indivíduo combativo e infatigável, esclarecido até certo ponto, sentimos que as causas que Sócrates defende, no fundo, não são aquelas onde ele tem mais interesse investido. Em boa verdade, a sensação que dá é que quando a altura determinante surge, Sócrates pende para o que mais lhe convier. E esse nem sempre é o que mais nos interessa. Reconheço que política é política e há que sobreviver, e reconheço també que o facto alguém mudar de ideias não implica que tenha falta de carácter. Contudo, o que separa o mudar de rumo e o fugir é muitas vezes algo de muito difuso. E não gostamos de estar nessa indefinição. Sócrates é um pragmático, mas só quando os interesses coincidem com os seus. Não digo que queira mal ao país, mas em boa verdade, como tantos outros, o objectivo principal que almeja, não é o bem do país. Pelo menos não é isso que transparece.
Sócrates esteve e está envolvido em diversos casos fora da política pura. Não sei se há ou não campanha negra e até pode estar inocente em todos esses casos. Mas a imagem que fica é de alguém matreiro, manhoso mesmo.
Este governo permitiu que crescessem os pequenos ditadores e as pequenas acções opressivas. Não quero afirmar que tal tenha sido incitado, mas a verdade é que por alguma acção e bastante omissão, nada foi feito para o evitar. Este governo criou muita política e políticas de espectáculo e de cenário. Houve muita coisa feita em cima do joelho, muita coisa que não foi acabada e pior, muita coisa que foi feita sem ser pensada, por reacção. Mais uma vez, a sensação do manhoso, do estarem a brincar connosco.
Mas vejamos as alternativas. O Bloco de Esquerda é sobretudo demagógico, irrealista e oportunista. Veja-se o que fizeram com Sá Fernandes e o que tentaram com Alegre. E para além de serem incompatíveis com qualquer partido passível de governar o país, muitas das medidas que defendem são de facto incompatíveis com qualquer governação. O PCP continua preso a ideias que não acredito serem capazes de nos ajudar, muito menos na situação actual do país e do mundo. Do CDS já sabemos o que podemos esperar de Paulo Portas e a sua dimensão política está cada vez mais reduzida. E do PSD? Manuela Ferreira Leite claramente não tem estofo para a coisa. Emenda cada declaração que faz. Erra em timings e o faro político que parece ter é muito pouco prático. Algumas ideias são boas e tenho especial apreço pelo Paulo Rangel (não tanto pela actividade como líder parlamentar que tenho tido pouca oportunidade de seguir, mas pelas opiniões que expressava no programa Mesa Para Quatro do Rádio Clube). Mas é pena que tenha sido enviado para o Parlamento Europeu. Talvez a única coisa boa que daí venha é conseguir safar-se das facas que vão sendo afiadas para trinchar Ferreira Leite num futuro muito próximo. Estas eleições sem dúvida dar-lhe-ão mais alguma força e espaço de manobra, mas ainda não consegui entender se os resultados são essencialmente uma vitória do PSD ou uma grande derrota do PS. Não creio que sejam transponíveis para as legislativas, mas é verdade que o PSD conseguiu ganhar algum momento e o PS perder parte do ensejo. E os restantes partidos? Será que vão vingar? Parece-me complicado. A julgar pelo que vi para as eleições europeias, têm sido fraquinhos; mas os grandes também.
Uma coisa é certa: para mim o PS não merece, nem pode ter maioria absoluta – daí duvido que advenham coisas boas. Mas então que solução minoritária será possível? Será que algum entendimento vai ser possível? A infantilidade com o provedor de justiça não augura bom futuro. Não penso que um governo minoritário seja uma solução. A conjuntura é má, no entanto o que precisamos não é de um esforço pontual, mas continuado. Uma solução instável não se compadece. E olhando para o espectro político, nenhuma coligação que não envolva o PS parece óbvia. Verdadeiramente democrático e honesto seria o PS reconhecer já uma coligação, apresentar uma proposta conjunta preliminar e levá-la a votos.

10 de junho de 2009

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