27 de janeiro de 2010
A inflexão na sonoridade dalguns dos «a», com a abertura do som, depois de uma fracção de tempo ínfima quase fechado. Os «e» circunflexos que enchem a boca. O alongar dalgumas das sílabas. Pouco interessa tentar descrever os pormenores, basta ouvir. Gosto especialmente do sotaque do Porto em canções.
Não é bem só do Porto, é daquelas redondezas. Não sei especificar bem, mas começará ali pelos lados de Aveiro, parando antes de chegar ao Minho; para o interior, não deve ir muito além de Amarante.
Talvez não passe de uma colecção de boas memórias. Talvez não sejam mais que boas recordações deixadas pelas músicas, ou marcas que o Porto cravou. Aquela cidade escura radia algo que não sei bem o que é, mas que me atrai e me faz pensar no futuro. Num futuro, sempre risonho. O falar daquelas redondezas leva-me até lá. É, certamente, datada, mas aqui fica uma lista de alguns dos meus intérpretes favoritos com o tal sotaque.
Começo com os incontornáveis, — para os da minha geração, — Ornatos Violeta. Manuel Cruz não engana ninguém: é todo Porto em cada sílaba.
Dia Mau | O Monstro Precisa de Amigos
Para horror de muitos teenagers atormentados e não só, o grupo desmembrar-se-ía em 2002, mas não acabou tudo aí. Manuel Cruz transferiu a sua voz para os Pluto, tendo entretanto já passado para o Foge Bandido Foge:
e o baixista Nuno Prata deu casa própria ao seu portoguês:
Há-os já com currículo. O porto de Sérgio Godinho é voluptuoso quando fala de Lisboa:
Lisboa Que Amanhece | O Irmão do Meio
O Rui Veloso, com cuja canção duplamente homónima partilho o nome, tem um lado lunar que não é o melhor que já fez, mas de que gosto muito:
E o Pedro Abrunhosa:
Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar | Tempo
Há outro Rui, o Reininho, de cuja voz não sou particularmente grande apreciador. Ainda assim, pelo relevo que tem, não o poderia deixar de fora, pelo que o incluo aqui num dueto com a também portista Mónica Ferraz, numa música dos Mesa:
E agora, sempre suave, a vila condense, Manuela Azevedo e o seu Clã:
Voltemos a mais novos. Jorge Cruz, da fronteira sul desta região demarcada, cuja Dona Ligeirinha talvez seja mais famosa que a Adriana. Ainda assim, gostei muito de:
O funk dos Outbreak acabou e agora, sei, pelo menos há miguelation. Mas a Maia da Marta Girão ficou por aqui:
Insiste em Resistir | Minuto Funk
Os dois mil e oito, também da Maia, ainda em versão sem ser de estúdio:
Por fim, o Paulo Praça, ex-Grace, a solo, num dos discos que mais gostei nos últimos tempos:
(Diz) A Verdade | Disco de Cabeceira
Venham mais.
publicado originalmente no É tudo gente morta.