20 de setembro de 2006

É curioso ver, sempre que há manifestações anti-globalização, contra a pobreza, até contra a humilhação que sofrem os muçulmanos, ou os palestinianos, ou outro povo esquecido, a culpabilização do nefasto capitalismo imperialista americano, que é brutal e não olha a meios.
É certo que os maiores consumidores do mundo são os americanos. Só em termos energéticos, cada americano, em média, gasta cerca de quatro vezes mais que um europeu, para um nível de vida essencialmente igual. Isso permite-nos rotular os americanos não só de maiores consumidores, como maiores esbanjadores.
Mas imaginemos a seguinte situação: um gordo de 100 quilos a discutir com um de 150, porque come tudo e não dá a dez pobres que pesam 20 quilos. Talvez as proporções não sejam bem estas, mas o que eu quero dizer é que a grande maioria de nós tem entranhado no seu ser o tal capitalismo.
Todos nós gostamos da nossa vida como a temos. Damos graças por podermos ter roupa barata, energia e combustíveis a preços relativamente baixos e assim podemos ter carros e casas iluminadas e aquecidas. Podemos comer manga quase todo ano e bifes de vaca suculentos, e temos medicamentos para muitas doenças e maleitas. Temos telemóveis e computadores.
Certo é, que grande parte destas conquistas são fruto de investigação e dos avanços da tecnologia das sociedades ocidentais e talvez até tenham por base, as conquistas sociais que foram feitas. Mas nos dias de hoje, temo-las da forma que temos à custa do facto de outros não poderem viver assim. Não tenhamos ilusões, o preço que pagamos pelo petróleo, pela água e por muitas das tecnologias que usamos diariamente é o que é, precisamente porque há muita gente que não as pode ter. E que tem de se esforçar, além do que nós chamaríamos de limite, para que as possamos ter, como as temos. Não há dúvidas, a vida que vivemos é a preço de saldos, mas saldos à custa dos outros, numa versão moderna do Arbeit Macht Frei.
Se é fácil criticar o esbanjar dos americanos, poucos ou nenhuns estariam dispostos a abdicar de uma grama da qualidade de vida que têm, se é que se mede ao peso. E suspeito, que mesmo que os americanos racionalizassem os seus gastos e vivessem como nós, que os problemas de falta que o outro lado sente, só por isso dificilmente se resolveriam. Portanto, a culpa não é só do tal diabólico consumismo americano. A culpa é de todos nós.

20 de setembro de 2006

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