28 de outubro de 2008
Voltam à carga os rankings (aqui e aqui, por exemplo). Faz agora cinco anos e vinte e um dias que escrevi:
Todos os anos é a mesma coisa. Bla bla bla e o ranking das melhores. É ridículo!
Fazer um ranking das melhores escolas não só não é ético, como apenas funciona como uma estratégia de marketing para os colégios privados – marketing do piorio porque é falso.
Classificar o S. João de Brito como a escola que teve a mais elevada classificação média por aluno nos exames nacionais é verdade; classificar a escola S. João de Brito como a melhor escola nacional não é verdade.
Toda a gente minimamente informada sabe como é que estas coisas funcionam: meu menino, não tens boa média… RUA! E se os pais das criaturinhas forem generosos (leia-se €, $, Visa ou MasterCard) e elas continuarem nas escolas, caso sejam de risco, vão fazer exames aos liceus públicos, que apenas têm de os recolher. A minha mãe foi aluna do Sagrado Coração de Maria em Lisboa e as coisas funcionavam assim há 30 e tal anos. Agora é a mesma coisa.
Os rankings só ajudam o lobby do ensino privado. É publicidade de borla. E o estado que pague.
Não mudo nada, só acrescento razões que poderia ter acrescentado há cinco anos e que continuam a fazer dos rankings uma grande injustiça para muitos e bons professores e alunos.
Obviamente que não estão na mesma situação um aluno que tem boleia para a escola todos os dias, tem uma biblioteca e computador em casa, tem pais educados e cultos, tem colegas filhos de pais educados e cultos e tem tempo para estudar, e um aluno que vai a pé para a escola, que tem pais com a quarta classe, que ao fim do dia ainda tem de ir ajudar na mercearia do pai e que vive num bairro problemático onde há traficantes de droga e gangs. Naqueles externatos, academias e colégios tenho as minhas sinceras dúvidas que algum dos alunos tenha passado alguma privação que seja.
Aqueles externatos, academias e colégios também podem escolher os alunos que acolhem, ao contrário das escolas públicas que têm de aceitar todos, mesmo os que não querem lá estar. Excepção feita em algumas zonas urbanas, em que há várias escolas públicas relativamente perto, o que permite criar polarizações, seja pela qualidade dos professores, das instalações, ou pelo tipo de alunos. Aí, geralmente, a escola com maior poder de atracção acaba por poder escolher os alunos e recordo-me de um caso desses, há alguns anos, em Coimbra.
Lembro-me de se falar muitas vezes do número de alunos por turma ser excessivo nas escolas públicas. Cheguei a ter trinta e poucos, é verdade, mas a média andaria pelos vinte e muitos. No entanto, também me recordo de os meus primos me contarem, que nas turmas deles, nos Salesianos do Estoril, trinta e alguns alunos por turma era mais que habitual. Lembro-me também que muitos dos professores que na altura ensinavam nos Salesianos eram professores que também davam aulas nas escolas públicas. Agora a lei já não o permite e facilmente se percebe o porquê; geralmente, se precisassem de faltar, obviamente a falta era dada no horário do serviço público.
Eu não sou contra avaliações, ou mesmo rankings, pelo contrário. Agora estes, os mesmos desde pelo menos há cinco anos, não valem a pena. São mesmo um insulto para alguns professores e escolas.