24 de março de 2008
Aqui de longe, vou-me mantendo actualizado sobre a vida urbana das duas localidades onde vivia antes de emigrar através dos blogs dos movimentos cívicos Cidadania Cascais e Cidadania Lisboa.
Numa proposta à comunidade de Cascais o movimento faz, aquele que considero, o melhor diagnóstico do comércio local da vila:
– Ninguém quer comprar 99 % do que as lojas de Cascais e do Estoril vendem;
– Em muitos casos as montras das lojas são ainda piores do que aquilo que se encontra à venda lá dentro;
– Os horários que praticam podem dar muito jeito aos comerciantes, mas não servem os potenciais clientes;
– Não pode continuar a vender as mesmas coisas que as grandes superfícies vendem e, muito menos, ao dobro dos preços por elas praticado. Tem que haver segmentação e valorização pela a diferença.
– Perceber que nas grandes superfícies o estacionamento só é grátis para os clientes. Ele é pago, e bem pago, pelos lojistas estabelecidos nas grandes superfícies.
– Tirar partido do significativo número de visitantes que, ao fim-de-semana, se desloca ao concelho em lazer, nomeadamente ao Paredão e ao Guincho, atraindo-os ao centro;
– Perceber, finalmente, que as pessoas não vão às suas lojas por causa da falta de estacionamento, ou por as ruas serem pedonais, ou por causa da Câmara, ou dos centros comerciais existentes, ou quaisquer outros poderes mais ou menos ocultos, mas sim, porque não encontram o que querem, à hora que querem, com a qualidade de serviço que querem.
Não há negócio a investimento zero, que é o que a generalidade dos comerciantes tem feito nas suas lojas nos últimos (muitos) anos. Será duro dizê-lo, mas não há centros urbanos vivos sem um comércio vivo. E este comércio de Cascais e do Estoril está morto. E continuará morto enquanto os comerciantes não entenderem que a culpa da sua desgraça não é, ou não é principalmente, da Câmara, das grandes superfícies, da falta de estacionamento, dos clientes, do sol ou da chuva. É deles próprios porque insistem em vender o que ninguém quer, às horas a que ninguém quer, a preços que ninguém quer.
De todas as variáveis de que dependerá a ressurreição do centro da vila, esta é a mais importante mas será, também, a mais difícil de alterar. Julgamos que apenas uma alteração radical da Lei do Arrendamento Urbano poderá trazer um princípio de solução. Possível a ressurreição do centro da vila? Sim, mas muito difícil. Haverá que tentar, contudo.
Porra…alguém que toca no ponto…
O post destaca a situação em Cascais, mas o problema é generalizado a todo o país…