25 de janeiro de 2009

Há uns tempos havia um blog intituladoA Kathleen Gomes é um boi“. Agora já não o é (o blog) e passou a ser “O Pedro Mexia quer ser Pivot!“. Mas isso não interessa nada agora. O que eu quero dizer é: o Vasco Câmara é uma besta. Ou isso, ou ceguinho. Eu não sei se é preciso ver-se um filme para criticá-lo, diria que sim, mas mais que estar na sala, é preciso perceber o que se está a ver. Na crítica no Público ao Slumdog Millionaire, Vasco Câmara diz:

Numa sequência em que se roça, aliás, a abjecção: para “furar” a multidão que se acotovela em torno da estrela que desceu dos céus em helicóptero, o nosso pequeno herói mergulha num poço de excrementos para, com o cheiro, conseguir afastar a multidão.

Ora no filme, realmente o pequeno Jamal mergulha num monte de excrementos, mas a cena passa-se assim: Jamal e o irmão geriam uma pequena casa-de-banho, na margem de um rio, ou pântano, e recebiam alguns trocos para deixar as pessoas lá fazerem aquilo que se faz numa casa-de-banho. Essa casa-de-banho não era mais que um buraco entre quatro paredes, em cima de estacas. Ora num certo dia, uma estrela de cinema vai visitar aquela localidade e o pequeno Jamal estava dentro da casa-de-banho, quando o helicóptero aterra. Essa estrela, Amitabh, era o herói de Jamal e ele queria um autógrafo dele mais do que qualquer outra coisa. Só que o irmão tranca-o na casa de banho e Jamal tem de tomar uma decisão: ou não vê Amhitab, ou sai da casa-de-banho saltando para dentro do buraco, caindo dentro dos excrementos. Jamal acaba saltar, segurando a fotografia de Amitabh ao alto, qual Camões nadando com os Lusíadas fora de água.
Depois dirige-se para o herói, imundo, mas nada daquilo que Vasco Câmara diz, simplesmente porque foi a única maneira de sair da casa-de-banho. Aliás, o facto de o irmão o ter trancado é parte importante da relação entre os dois que se desenvolve ao longo da história.
Não vou fazer considerações filosóficas acerca do filme. Limito-me a dizer que é um filme bonito, bem filmado, com uma história bela, boa fotografia e que me deu muito prazer a ver. Mas Vasco Câmara acrescenta:

O filme de Boyle não é mais “real” do que um musical de Bollywood – aliás, o filme de Boyle acaba como um musical de Bollywood, tentativa de passar a mão pelo pêlo do espectador indiano.

Não sei se é real ou não, nunca fui à Índia. Da mesma forma que não sei se O Cidade de Deus é real, pois nunca fui a uma favela, nunca fui ao Brasil. Não deixa de ser um muito bom filme. Não contente, logo na frase a seguir vem mais uma cretinice: sim, o filme pós-acaba (porque já não faz parte da história, é na altura dos créditos) como um musical de Bollywood, com uma dança à lá Benny Lava. Claramente o objectivo não é tentar “passar a mão pelo pêlo do espectador indiano“; não estou dentro da cabeça de Danny Boyle, mas o pós-final é notoriamente um apontamento de humor, um salpico no fim dum filme tenso. Mais nada. Se não viu o filme, é uma besta, porque escreve sem saber. Se viu o filme, não percebeu nada do que lá estava (e nem é assim tão complicado).
ACTUALIZAÇÃO:
Fiz um post com a cena descrita. Poderão ver aqui que não é nada daquilo que Câmara descreve.
ACTUALIZAÇÃO 2:
Reconheço ter sido intransigente neste post e fica aqui a minha retracção.

25 de janeiro de 2009

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