18 de junho de 2009

Não conheço o Nuno Crato pessoalmente, nem entendo que precise de qualquer defesa, mas perante o que foi escrito aqui, sinto necessidade de dizer qualquer coisa. No seguimento, aqui, deturpam-se resultados e faz-se a apologia do facilitismo.
A certa altura, citam-se os resultados da classificação dos professores portugueses como “Transmissionistas” ou “Construtivistas” do inquérito TALIS da OCDE [1]:

Direct transmission beliefs about teaching
• Effective/good teachers demonstrate the correct way to solve a problem.
• Instruction should be built around problems with clear, correct answers, and around ideas that most students can grasp quickly.
• How much students learn depends on how much background knowledge they have; that is why teaching facts is so necessary.
• A quiet classroom is generally needed for effective learning.

Constructivist beliefs about teaching
• My role as a teacher is to facilitate students’ own inquiry.
• Students learn best by finding solutions to problems on their own.
• Students should be allowed to think of solutions to practical problems themselves before the teacher shows them how they are solved.
• Thinking and reasoning processes are more important than specific curriculum content.

Antes de mais, o que está enquadrado como “construtivista” não é aquilo que os críticos do eduquês se queixam, ao contrário do que o autor quer fazer parecer. Claro que todos queremos que os professores incitem os alunos a questionarem-se; claro que todos queremos que os alunos tentem eles próprios chegar às soluções antes de lhes serem dadas as respostas; claro que todos queremos que os alunos em primeiro lugar aprendam a pensar. Os que se queixam do eduquês não são retrógrados e não pretendem certamente voltar ao tempo da reguada. Mas dizer que queremos que os alunos em primeiro lugar aprendam a pensar, não significa que se desleixem os currículos ou que os alunos não tenham que os aprender. Obviamente que uma aula participativa é melhor que uma aula de alunos calados e inactivos, mas isso não significa que não haja disciplina quando a aula é perturbada; o contrário de “quiet classroom” nem sempre é aula participativa, muitas vezes é aula indisciplinada. Obviamente que decorar grandes quantidades de factos não tornam um aluno melhor, mas isso não significa que não exista um número mínimo de conhecimentos para que se possa depois raciocinar e compreender.
Pode-se adoptar uma atitude enquadrada neste conceito de “construtivista” sem comprometer o grau de exigência e de responsabilização. É por isso que lutam os anti-eduquês; não é contra a inovação na escola, é contra o facilitismo e não é isso que está em causa neste estudo. Claramente o argumento “Instruction should be built around problems with clear, correct answers, and around ideas that most students can grasp quickly” é um argumento facilitista, que os anti-eduquês não defendem.
No segundo post mencionado, é apresentado o seguinte gráfico, ao qual sobrepus o resultado do PISA 2006, para ciência [2]:

Em geral, parece que sim, quanto mais “construtivistas” são os professores, melhores os resultados dos alunos; a tendência confirma-se. Mas atente-se ao facto de os países mediterrânicos (Portugal, Espanha e Itália), os piores na escala do “construtivismo”, terem resultados no PISA (sobretudo a Espanha) não tão diferentes da Norueg, Eslováquia, Polónia, Dinamarca ou da Islândia, países bem mais “construtivistas” que os três membros do PIGS. De notar que as duas curvas do TALIS são simétricas em torno da origem.
Por curiosidade, resolvi sobrepor aos resultados do TALIS, índices de evasão fiscal (os que estavam disponíveis, relativos a 2000-2002 e retirados de [3]):

É interessante, parece que também aqui vemos uma tendência: quanto menos se foge às obrigações fiscais num país, mais “construtivistas” são os seus professores (e já agora, melhores os resultados no PISA). Correlações não são relações de causa-efeito, mas a única coisa que quero dizer com isto é que uma aula não calada na Finlândia, ou na Áustria pode querer dizer que os alunos são participativos e cumprem com as suas obrigações escolares, e uma aula não calada em Portugal, Espanha ou Itália, pode querer dizer que os alunos são barulhentos e não cumprem com as suas obrigações escolares. Se calhar, num sítio não se chumba porque as pessoas cumprem, noutro, não se chumba porque as pessoas são empurradas para cima. Talvez as relações “construtivistas” sejam mais facilmente postas em prática em lugares onde as pessoas são mais cumpridoras em geral, onde o facilitismo já foi eliminado pela disposição comportamental dos cidadãos.
O que os anti-“eduquês” defendem não é a falta de inovação ou interacção. Defendem é que se acabe com a deturpação que se faz de políticas inovadores, implantando medidas medíocres e facilitistas, que não são mais que enganar os alunos, os pais e o país.
REFERÊNCIAS
[1] – Creating Effective Teaching and Learning Environments: First Results from TALIS link
[2] – PISA 2006 Science Competencies for Tomorrow’s World – Executive Summary link
[3] – Tsakumis, G.T. et al., The relation between national cultural dimensions and tax evasion, Journal of International Accounting, Auditing and Taxation, vol. 16, issue 2, 2007, pp. 131-147 link

18 de junho de 2009

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