23 de setembro de 2013
No Público de Sexta-feira vinha um esperançoso artigo intitulado “O português conquistou a Internet, agora quer ser língua oficial nas organizações internacionais”.
Na Internet, o português já é a quinta língua mais usada. Nas redes sociais – Facebook e Twitter – é a terceira. Também alcançou esse ranking, terceiro mundial, nos negócios de gás e petróleo, em grande parte graças a Angola e Brasil. Entre as áreas a conquistar, estão a ciência e a diplomacia.
“Conquistou a Internet?” “Em grande parte?” – Digo que o artigo é esperançoso para não dizer fantasioso. Sim, se formos pelo número de falantes até podemos ser a quinta língua mais usada na internet (graças aos brasileiros). E depois? O número absoluto de falantes é, claro, importante, mas a não ser que haja uma revolução de natalidade, pouco poderemos fazer contra o inglês, o cantonês e o mandarim, ou mesmo o espanhol.
Um exemplo – perguntem à Siri que línguas fala:
O português provavelmente vem a caminho, mas a pressa é muito pouca. E para os que acham que a Apple é elitista e não quer saber dos pobrezinhos, a Google demorou quatro anos a implementar a língua.
Para o bem ou para o mal, aquilo que determina o poder da língua é sobretudo económico, em dois aspectos fundamentais. O primeiro é a economia pura e dura: língua de negócios, língua franca de interesses económicos e financeiros. Goste-se ou não. E é por isso que a Siri fala alemão e francês, coreano e italiano. O segundo é a cultura: uma presença forte e indispensável. A cultura em si mesmo tem uma dimensão económica – a indústria cultural e turística – mas é muito mais que isso.
Ninguém fora da lusofonia vai conduzir negociações diplomáticas importantes em português. Ninguém vai usar a língua em organismos internacionais. É pura fantasia. Assim como é fantasia tentar usar o português como língua de ciência.
“A língua de ciência a nível mundial é o inglês. Mas isso não significa que outras não se assumam como línguas em que se pode escrever o resultado da ciência realizada”
Há muita coisa a fazer para a ciência portuguesa (ou lusófona) se desenvolver e esta não é, claramente, uma prioriadade. Devemos esforçarmo-nos por divulgar ciência em português? Claro que sim, mas os esforços tem de ser bem medidos e alocados. O mesmo se tem de passar na cultura: há que preservar e desenvolver o que resta dos nossos créditos históricos e do respeito que algumas das outras civilizações (nomeadamente as Orientais) ainda têm por nós. Há que aliar isso aos esforços económicos. Há que ter uma política coerente de ensino e promoção da língua, que não pode flutuar ao sabor de governos e nomeações e que, a ser considerada prioritária, não pode ser abandonada à menor dificuldade.
A cultura da língua portuguesa só será defendida se se promover a cultura dos que a falam. Apoiar, criar e divulgar o que se faz no nosso país (e no resto da lusofonia). Com trabalho, inteligência, estratégia e qualidade a conquista da língua virá de seguida. E o mais curioso é que esse trabalho até pode (deve) ser feito em inglês, ou mandarim, ou francês, porque para já, se não fôr, poucos o entendem.
Ate porque, ‘a medida que a lingua se universaliza (o ingles no caso) e’ menos e menos importante divulgar “a lingua”. Neste momento aposto que todos os portuguese trocavam todos os estrangeiros que sabem “falar portugues” por estrangeiros que “confiam e investem” em portugal. Promover o pais hoje em dia tem pouco a ver com promover a lingua.