1 de julho de 2003

XLZ43.psi2™
crónica surrealista sobre o destino do mundo
original em www.100ideias.org

"Perhaps
you will not only have some
appreciation of this culture; it is even possible
that you may want to join in the greatest adventure
that the human mind has ever begun."

Richard P. Feynman

Todos dizem que está mal. Tudo está mal, especialmente em Portugal. E os Portugueses dizem-no primeiro. É preciso fazer isto e aquilo, remendar acolá, reformar aqui, renovar ali. Mentalidades novas! Sim, todos aqueles que antes o proclamaram, ou se suicidaram, ou não conseguiram implementar aquilo que afirmavam. Tivemos e temos bons poetas, tivemos e temos bons escritores. Tivemos e temos bons pensadores, cientistas e juristas. Fazemos revoluções sem mortos, descobrimos caminhos, mas… e agora? Todos os dias pergunto isto, como todos antes de mim o fizeram e disseram: agora é que vai ser, é só passar este momento de crise. Não. ( Já agora, quem não leu os Lusíadas pode fazê-lo aqui ) Não. E não. Vamos ficar a olhar? Vamos.
Agora já pouco choca. Tirando o absolutamente horrendo, o desumano, já pouco choca. Não há vergonha, pudor, brio ou amor-próprio. Só amor ao próprio. Aristófanes disse um dia que não vale a pena zombarmos dos insignificantes; o poeta faz mira aos que têm o poder. Mas nós não aprendemos. A minha conclusão é de que os portugueses são, por natureza burros. Não é casmurros, teimosos, ou maldispostos: é mesmo burros. Fazemos sempre os mesmos erros, vezes e vezes sem conta desde há 850 anos. É verdade. Dizem que não trabalhamos. É verdade. Poucos trabalham e geralmente os que trabalham empregam mal os seus recursos. Só alguns se escapam a este destino. Antes de mais quero convocar uma greve. No próximo dia 1 de Julho, das 8h30 às 18h00, peço a todos que parem tudo aquilo que estão a fazer e que, bem, trabalhem. Sim. Uma greve de trabalho. Original.
E porque é que é importante trabalhar? Para sermos os melhores da Europa? Para termos mais telemóveis? Para integrarmos o pelotão da frente? Para sermos mais industrializados? Para termos mais riqueza? Para sermos os melhores? Não. Ninguém nos obriga a ser do 1º mundo. Se todos forem felizes num país do terceiro mundo, tanto melhor – cá se arranja, certamente. Trabalhar – só para uma coisa: para não roubar. Para sermos pessoas honradas e decentes. Simplesmente isso: não roubar.

1 de julho de 2003

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