16 de outubro de 2003

Muitos dos que me conhecem sabem que Nova Iorque é, para mim, algo de muito especial. Os que não me conhecem assim tão bem e lêem o blog, depois desta segunda parte da minha crónica sobre a cidade que nunca dorme perguntaram-me: “mas tu tens uma tara por aquela cidade, não é?”
É. Não é bem uma tara, é uma paixão assolapada. Porquê? Nem eu sei bem. Dizem-me que mal eu começasse lá a viver, havia de perder este amor. Talvez. Só lá estive duas semanas. Não posso dizer grande coisa; e foi como turista, não como um verdadeiro habitante. Mas não creio que isso vá acontecer, quando para lá fôr viver. Eu também sou um apaixonado de Lisboa e, embora não viva lá, sempre lá fui frequentemente desde que nasci e agora, quase todos os dias – vejo Lisboa com os mesmo olhos, com o mesmo coração.
Há cidades que me dão doses de felicidade intrínseca. Há outras que ainda dão mais qualquer coisa: é o caso de Nova Iorque. Não são só os edifícios, nem as pessoas, nem os parques, nem a vida artística, nem a vida corrente, nem as mercearias, nem os bairros supra-nacionais, nem os cachorros quentes, nem o café, nem as luzes, nem o trânsito, nem a sensação de grandeza. Não é só isto que me torna um admirador da cidade.
É mais qualquer coisa, simples e suave, mas ao mesmo tempo latejante e persistente. É um cheiro, uma sensação. É uma emoção: uma profunda e avassaladora emoção. Um sentimento de pertença ao mundo e de sua posse, um sentimento de originalidade, um sentimento de investimento naquilo que vale a pena. Será? Não sei? Isto que disse clarifica alguma coisa? Absolutamente nada. Mas… quem sou eu? O que é um electrão?
Há coisas complicadas de se saber… Parece pretensiosa esta minha maneira de descrever a relação que tenho com uma cidade. Peço desculpa. Só digo mais uma coisa: há uma força que me impele a dizer… a minha cidade. É minha…
Estranho.

16 de outubro de 2003

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