7 de novembro de 2003

Há muita gente que gosta de dizer mal dos americanos e da América. Mas têm muitas coisas boas. Não é disso que vou falar; apenas pretendo tomar para discussão a festividade do dia de Acção de Graças, que lá é levada a sério e cá nem sequer é recordada.
Hipocrisias à parte – há-as sempre em qualquer ocasião – o dia de Acção de Graças serve para isso mesmo: dar Graças. Os americanos acham que devem agradecer a Deus o sucesso da sua vida. Mais do que isso, a grande maioria dos americanos, mais que ser patriota e independentemente de estar ou não a favor dos seus governantes, está grata àquela nação. Grata por um efectivo sentimento de capacidade, de realização.

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foto de David F. Gallagher

Por outro lado os habitantes da Tugolândia (estou a considerar mandar a sua Excia. El Presidente esta proposta de alteração de denominação da mui nobre metrópole), dizia eu, os habitantes do nosso Império aproveitam toda e qualquer ocasião para criticar, deitar a baixo e reinvindicar os seus direitos.
Sim, os nossos concidadãos (tu, eu), ou quase todos, sentem-se injustiçados pelo simples facto de o estado não subsidiar a nossa existência como cidadãos nacionais. Claro! Têm sorte de EU ter nascido cá!
Não me digam que os portugueses (como eu) passam a vida a deitar o espírito nacional a baixo… É verdade! Nós somos uns ingratos.
Outra coisa que se ouve muito os pais a dizerem aos filhinhos… já que o país está tão mal: é cada um por si; não confies em ninguém excepto em ti mesmo. O mal disto tudo é, novamente, a ingratidão, que leva, inevitavelmente, ao egoísmo.
Ora vejamos: as coisas estão tão embrenhadas em nós, tão inconscientemente adquiridas, que nem sequer vemos como é que elas podem sequer existir. Eu estou aqui a escrever num computador, a utilizar uma rede informática, que por sua vez depende de uma rede de energia eléctrica. Estou sentado num estrado de madeira, que está assente no chão do apartamente, que está inserido num prédio. Há engenheiros que desenharam isto tudo. Técnicos que mantêm a sua qualidade e segurança. Há pessoas responsáveis não só por inventar tudo aquilo que utilizamos no dia-a-dia, como encarregadas de zelar pelo seu funcionamento.
E será que sabemos como é que isso é feito, como é que as coisas funcionam? Não. Será que nos lembramos dessas pessoas? Não. Só nos lembramos do quanto NÓS contribuímos para a sociedade, dos impostos que NÓS pagamos. Portanto, as nossas vidas, por mais independentes e autónomos que sejamos, estão diariamente nas mãos de outros. Verdadeiramente nas mãos dos outros. Ainda bem que, talvez inconscientemente, há tanta a gente a cuidar de tantos outros. É isto a que eu chamo um super-grau de organização e de supra-consciência, mas isso fica para outro dia. Agora só me resta dizer: dêmos graças.

7 de novembro de 2003

2 pensamentos em “thanks

  1. Luis says:

    Longe de mim ensinar-te História Americana mas o Dia de Acção de Graças serve para agradecer o facto de Deus lhes ter dado os perús para comer quando os pioneiros chegaram a uma terra hostil e n tinham q comer. O dar graças é o q todos os países, culturas, etc. fazem em todos os feriados. No Natal agradecemos o facto de Deus nos ter enviado o seu filho p nos salvar. Na Páscoa, o facto de ele ter-se sacrificado pelos nossos pecados, no 25 de Abril damos graças àqueles, q corajosamente, estavam dispostos a dar a vida pela nossa liberdade, etc.

  2. A meu ver, infelizmente esses dias que referiste são cada vez menos dias de acção de graças. Foram… em tempos…
    E referia-me sobretudo ao espírito geral dos Portugueses. Acho que somos um povo que exige muito mais do que aquilo que está disposto a dar.
    Ah, e obrigado pela lição: não sabia essa dos Perus.

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