21 de maio de 2004
Vou contar uma pequena história, mas primeiro vou enquadrar. Nasci em 1982. Desde sempre fui educado segundo as regras do Catolicismo e sempre acreditei em Deus. Sempre falei com ele. Sempre fui à missa. Não é que considerasse a Igreja como perfeita, mas achava e acho que é a melhor instituição que temos (pesembora muitas falhas) no que diz respeito à interface homens-Deus. E sempre achei que se deveria apostar na Igreja. Quanto a Deus em si… humm. Era um amigo.
Cá vai:
O Homem existe. Cá está ele, à face da Terra. Não descende de Adão. Deus criou o Universo e com paciência e muita mecânica quântica, o que hoje vemos apareceu. O Homem, na sua grande capacidade cognitiva descobriu Deus – ou Deus revelou-se-lhe; também não é o que importa. O que importa é que existe comunicação. E o Homem, por alguma razão é a melhor criação de Deus. Dos poucos a saber o que é o Bem.
Também nunca achei que Deus interferisse directamente no mundo. Apenas guiava, dava conselhos. Jesus? Boa questão. Interferência? Ou aconselhamento?
A questão é que não ponho as questões mais estranhas. Ou antes, considero que elas não têm de ser feitas. Por exemplo, nas guerras, ou mortes, porque é que Deus permite que tal tenha acontecido? Não acho que tais perguntas sejam necessárias. Simplesmente Deus não tem que ver com a situação. Deus é apenas o Bem – e como chegarmos até ele.
E era assim que eu era… Apenas uma questão permanecia ao longo dos tempos: será que Deus deixa de existir se o Homem desaparecer. Estranhamente só me vinha sim à ideia.
E foi aí que… puff. Humm, pensei eu (talvez fruto da minha formação científica). Eu sou feito de pecinhas. Acredito que os meus pensamentos não são mais que moléculas organizadas. Então se são, são replicáveis (em teoria; não digo que executável). Se sim, o que é a réplica? Sou eu! Se sou eu, então não há alma, porque não tem sentido haver duas almas iguais. Se não há alma, não há Deus. E pronto. Só fica uma pergunta por responder: porque é que isto tudo existe.
Deus não é mais que um mecanismo de auto-defesa. Deus é uma criação da mente humana. Deus é uma manifestação da necessidade intrínseca do Bem. Deus é o melhor que nós poderíamos ter inventado.
Fico feliz por as pessoas acreditarem em Deus e tenho alguma pena de eu ter descoberto este mecanismo. E a melhor coisa que posso ouvir é as pessoas que acreditam em Deus dizer que eu estou enganado: quer dizer que o sistema funciona. Assim, não só essas pessoas têm um bestial apoio durante toda a vida, como têm um reconforto para os seus amigos idos, como ainda garantem o seu próprio repouso eterno.
É uma das melhores invenções do Homem. Mas será que é consciente? Acho que para uns sim, mas para a maioria não. Deus é uma ferramenta evolucionária. Deus é a única maneira de não nos auto-destruirmos (humm, parece paradoxal, se calhar). E a prova de que é uma boa arma é que quem ler isto vai dizer que é um disparate. E é por isso que eu vou educar os meus filhos a acreditarem em Deus.
ainda não tivémos a tal conversa…
Como disse no fórum, acho o texto excelente 🙂
Muito bem escrito,
Ricardo Ramalho
Brilhante. Tu consegues mesmo expressar-te como ninguém. Essa é a definição de um grande poeta, de um grande artista, de um grande homem. Acredito que Deus é uma invenção dos homens. É falso, não existe. No entanto, acreditando nessa entidade falsa, as pessoas vivem melhor. Fico feliz por elas. Fico feliz por acreditarem em Deus. Elas não têm metade dos problemas que eu tenho. Mas eu não consigo acreditar em algo falso. Nem levar os outros acreditar. Acho que assim a magia de Deus perde o sentido e assim se perde toda a justificação para a sua invenção
ok… se calhar tens razão…
estou a 2 semanas de dizer k acredito em deus e agr reaparecem-me tdas as dúvidas: será k existe msm? francamente eu sinto que TENHO de acreditar pk s n acreditar vou-m sentir mt mt perdida. para o meu bem, é bom acreditar que existe algo bom, existe algo que depois vai cobrar tudo o que de destrutivo fizermos. kero acreditar k vai tudo correr bem. kero acreditar k terei sempre uma protecção (s n for d deus, será do bem k existe em cada um de nós).
Mékié chicalhão! 🙂 Este texto está genial! Não tenho bem a certeza se é nisso que acredito, mas é perfeitamente possível, e está muito bem justificado.
Não me lembro de teres dito isto nas nossas conversas filosóficas sobre o assunto! Se disseste e eu falei demasiado alto para te prestar atenção como deve ser, as minhas desculpas! Aqui está realmente uma grande ideia 🙂
Gostei mt de cá passar! voltarei! 🙂
Hey, Miguel. Não, provavelmente não terei dito, porque houve umas certas evoluções nos meus pensamentos e convicções nos últimos tempos.
lai ming – não te queria causar transtornos! nem a ti nem a ninguém! Acho que há coisas boas a que nos podemos agarrar, algumas talvez utópicas como a bondade intrínseca do Homem. Mas será assim tão utópico?
Hummm… é complicado debater isto aqui… talvez possamos falar noutra ocasião, já que nunca me canso de falar sobre este assunto.
…há no Sapo (fóruns) um texto meu intitulado: “…Deus de Mãos Atadas…”: Não será uma resposta nem o teu texto, bem elaborado, é uma resposta; no entanto, apesar de Deus (corpóreo) não existir, existe algo criado ou não, auto criado ou não mas que a nossa consciência o “entende” como existente; se entendemos um Universo como existente, algo o “fabricou”; talvez essa Vontade, esse Verbo, essa Palavra, o que quer que se lhe possa (ou deva) chamar, seja (ou deva ser) Deus, não sendo este alguém mas sim uma Consciência Global formado por tudo quanto existe; o único e derradeiro problema esteve, está e estará para todo o sempre na primeva questão: como surgiu?…
…abraço