4 de outubro de 2004

Nova Iorque – Terceira Parte
Foi em Nova Iorque que vi pessoas num museu a olhar para um Picasso com tudo menos o ar de serem pessoas que ficam a olhar para quadros de Picasso. Era um latino-americano, de manga-cava, fios de ouro ao pescoço e um barrete tipo collant na cabeça. Estava lá, sozinho, a contemplar. Foi aí que percebi que não há ar de pessoas que contemplam quadros de Picasso, há apenas pessoas que os contemplam. Mas foi preciso ir ao outro lado do Atlântico.
Também foi por lá que vi aulas em museus com alunos que estavam verdadeiramente interessados naquilo que viam e não num êxtase, embora infundado, em tudo semelhante ao de um símio que estivera em cativeira, privado do seu mundo natural e que de repente o devolvem à sua vida selvagem.
Da segunda vez que fui a Nova Iorque, fui com um amigo, já o World Trade Center tinha sido derrubado. Fiquei hospedado numa pousada de juventude no rua 42, com a 6ª avenida. Mesmo ao lado da Times Square. É um sítio demasiado turístico para meu gosto, mas ainda assim não deixa de ser uma experiência bastante interessante, estar a viver alguns dias a 50m desse mítico local.

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foto de David F. Gallagher

As coisas estavam diferentes. Sentia-se no ar o pesar. Ainda só tinham passado seis meses do 11 de Setembro de 2001. Começou logo quando aterrei. Desta vez fui ter a Newark, do outro lado do rio Hudson, já no Estado de New Jersey, mas ainda assim, bastante perto da cidade de Nova Iorque.
Ao entrar no terminal, uma grande janela esperava-me com uma assobrosa vista do skyline nova iorquino visto de sul. Via-se toda a baixa da cidade, mas faltava qualquer coisa. Foi impressionante aquela visão. As torres tinham desaparecido. Era exactamente como tinham mostrado na televisão. Um vazio.
(continua)

4 de outubro de 2004

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