6 de novembro de 2004

polaroid (c)TIME
Factos são factos e os factos são estes: a população dos EUA é de cerca de 290 milhões de pessoas; Bush alcançou a vitória com 59.459.765 votos contra 55.949.407, ou seja, 51% contra 48% do total de eleitores; em 2000 Bush alcnçou a vitória com 50.456.169 votos contra os 50.996.116 votos de Al Gore, o que em percentagens de votantes significa um empate de 48% para ambos os candidatos.
Isto significa que, este ano, votaram cerca de 15% mais pessoas que em 2000, mas que a América continua practicamente na mesma: bipolarizada. Os meios de comunicação têm tratado o resultado como um êxito retumbante de Bush, mas no fundo os cidadãos americanos continuam divididos sensivelmente a meio. Este ano a balança tombou um pouco mais para o lado Republicano, evitando a reedição do embroglio de há quatro anos. Mas mais um pormenor: permitiu também aos Republicanos tomarem o controlo do Senado e da Câmara dos Representantes.
Muito se tem dito sobre a lavagem cerebral que a administração Bush tem feito aos americanos, para os manter sobre o constante medo da ameaça terrorista e manter presente a necessidade extrema de segurança, legitimizando assim as políticas dos últimos quatro anos. No meu entendimento da maior parte dos comentários aos resultados, é este o motivo que é considerado responsável pela vitória de Bush. Mas se assim foi há uma questão pertinente? Porque razão é que essa pressão só resultou sobre os mesmos cinquenta por cento que já haviam votado há quatro anos. É que embora Bush tenha tido uma ligeira vantagem este ano, a percentagem é a mesma – e as eleições, pelas dimensões que tomam, são a melhor amostra estatística que há.
Vendo bem os mapas, Kerry ganhou, sobretudo no litoral. É interessante ver como em estados como o Texas, que os condados que elegeram Kerry são os mais pertos do mar, ou no Mississipi, os mais pertos do rio homónimo. Do mesmo modo, estados como a Califórnia, ganha por Kerry, os condados que mais votaram Bush são os do interior.
No litoral estão as cidades, o centro priveligiado da informação e do controlo económico. No interior, os meios rurais. Pouco interessam por esses lados os problemas sócio-económicos. Interessa a moral e a religião, e a guerra. E Bush defende-as a ambas. Análise muito redutora?
A questão é que Bush não conseguiu convencer muitos mais do que aqueles que já tinham votado nele, mas foram os suficientes.
Será por isso? Serão estas as razões? E porque é que o interior amricano pensa dessa forma. E é o interior americano que dá força à América dos dias de hoje?

6 de novembro de 2004

Um pensamento em “America, a estranha

  1. André Neto says:

    “No litoral estão as cidades, o centro priveligiado da informação e do controlo económico. No interior, os meios rurais. Pouco interessam por esses lados os problemas sócio-económicos. Interessa a moral e a religião, e a guerra. E Bush defende-as a ambas. Análise muito redutora?”
    Nunca tinha pensado nisto. Gostei!!!

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