17 de maio de 2008

Não sei quem é o autor, mas geralmente gosto de ler o seu blog. Avisa logo no início: “não recomendado a pessoas impressionáveis“. As opiniões lá expressas nunca pecam pela falta de frontalidade e, apesar de nem sempre de acordo, aprecio a mordacidade.
No entanto, na última, O cigarro de Sócrates, não me revejo e sou totalmente contra o que ali é expresso. Reconheço que haja nalguma sociedade uma excessiva preocupação com o fumo e um certo nojo pelos fumadores; sim, isso leva a que muitos outros problemas de incidência semelhante à do fumo sejam ignorados.
Contudo não reconheço que a actual proibição seja “moraleira-totalitária”. Nem sequer a justifico com a necessidade de diminuir os encargos públicos com as doenças auto-infligidas de alguns cidadãos. Reconheço ainda que o tabaco possa ser um prazer, assim como os há tantos outros igualmente prejudiciais para a saúde de cada um de nós, dos quais também eu gosto de desfrutar.
Quanto ao acto de Sócrates, apesar de ridículo (por ter sido atrás de cortinas), apesar de mau exemplo e apesar de constitucionalistas virem dizer que é ilegal, não vejo daí vir grande mal ao mundo. Aliás, não percebo porque é ilegal: o avião não era fretado? Não é considerado como transporte privado? Porque é considerado um espaço público?
No entanto não posso deixar de ser contra o resto do post, em que se afirma que a lei do tabaco é mais uma forma de humilhar, reprimir e moralizar. Sinceramente, cada um faz aquilo que lhe apetece consigo mesmo. O fumo do tabaco é, porém, altamente invasivo e para garantir o prazer de muitos, garante-se o desprazer de muitos outros, isto para não entrar no domínio de questões de saúde. Prazeres muito bem, mas cada um com os seus. A actual pode até ter emanado de lobbies anti-tabaco reaccionários e mal intencionados, mas é uma questão de bom senso.
———————————–
ADENDA: Obrigado Duarte e João pelos comentários, realmente não me lembrei da parte do local de trabalho; estou esclarecido, é ilegal. Nisso, então, não há dúvidas, o Primeiro-ministro cometeu uma ilegalidade e deve ser punido. E sim, João, nisso concordo contigo, o exemplo é muito importante. Contudo não concordo com o que dizes Duarte: primeiro há opção (menos de 100 metros quadrados, totalmente fumador ou totalmente não fumador), mais de 100 metros quadrados, zona específica, embora, em ambos os casos, sempre sujeito a regulamentação específica para a extracção do ar. Primeiro, se desse aos comerciantes uma alternativa totalmente facultativa, nada iria mudar, segundo, dá-se a opção aos fumadores, mas não se dá opção aos não fumadores. O fumo só é prejudicial. Ir fumar lá fora, ok, é um bocadinho desconfortável, mas não é nada demais.

17 de maio de 2008

2 pensamentos em “RE: O cigarro de Sócrates

  1. João Paulo Silva says:

    Bem, já só descordo em parte de ti! 😉 A parte do fumo em geral estou contigo, como já tivemos oportunidade de discutir muitas vezes.
    Relativamente ao acto do Sócrates, não fosse ele Primeiro Ministro, não fosse ele quem orgulhosamente criou a lei (uma das boas medidas), não fosse às escondidas, não fosse repetente na situação pelo que se ouviu dizer e a coisa não era tão grave! Agora… se os próprios criadores das leis não as cumprem, que moral têm para nos obrigarem a cumprir?! E estamos a falar numa infracção com consequências menores! E nas outras? Os impostos? Os beneficios? Os salários? Os subsidios?
    Concretamente na personagem Socrates esta atitude ainda pode criar uma dose extre de revolta! A arrogância e postura à lá ditador e de cidadão exemplar (que até faz jogging!), contrasta brutalmente com o real Sócrates que descuidadamente se vai revelando! Do curso duvidoso, a projectos ainda mais duvidos só faltava mesmo não cumprir as próprias leis que cria e que exige aos outros!
    Resumindo e concluindo, o problema não é o desgraçado do cigarro é, isso sim, uma questão de principios, coerência, dignidade e credibilidade (ou falta de), que este governo tem vindo a perder, e de que maneira!

  2. Epá, oh Sheeko…
    “Aliás, não percebo porque é ilegal: o avião não era fretado? Não é considerado como transporte privado? Porque é considerado um espaço público?”
    Porque apesar de ser “privado”, é um local de trabalho: assistentes de bordo, pilotos, etc. E sim, a lei impede(!) que se fume até num meio de transporte com aquelas circunstancias. E sim, a lei é mesmo “uma forma de humilhar, reprimir e moralizar”. Se não o fosse, dava a opção aos estabelecimentos de escolher em que condições queriam exercer a sua actividade. Não dando a opção, é isso tudo.

Os comentários estão fechados.

"