3 de abril de 2013

Sou emigrante. Em raras ocasiões dou-me ao trabalho de ouver o Telejornal da RTP (Rádio e Televisão Portuguesa, antiga Rádio Televisão Portuguesa). Como gosto de computadores e não tenho televisão, tenho um programa que serve de Media Center, misto de agregador de filmes, séries e outros programas de televisão. Não vale a pena entrar em detalhes técnicos, mas o programa chega-me através duma feed RSS, uma espécie de livro de registos de cada emissão. Basta saber o endereço desse registo e o programa vai buscar cada edição, que fica à minha disposição.

Em meados do mês passado resolvi ver o Telejornal, mas desde o dia 9 de Março que não havia novas edições. Como os meios de comunicação portugueses, salvo raras excepções, ligam peva às modernices e menos respeito têm pelos que as usam, não estranhei: a coisa já tinha acontecido em variadas outras ocasiões. Os senhores julgam por bem mudar o endereço da tal feed RSS e, nem água vem, nem água vai, não avisam ninguém. Serviço público. Protestei no Twitter e alguns dias depois disseram-me que estava tudo noutro sítio. Tudo? Não! É que agora há um endereço novo, não só para a tal feed como para o próprio programa. É que já não é Telejornal. Agora é o Telejornal+ 360º . Pelo menos no mundo da internet, onde até próxima mudança, vai ficar lá o António Esteves de boca aberta. Na televisão parece que ainda é só Telejornal.

O Telejornal é o programa mais antigo da RTP e existe com esse nome desde 1959. Pelo menos aí, não lhe mudam o nome, mas na internet, a sua casa mudou de endereço. Como já tinha mudado em 2012 quando a RTP estreou o novo site. Na BBC o endereço do News at Six é o mesmo desde 2008. Ou o Anderson Cooper 360º, com o mesmo endereço (ou redireccionamento) desde 2003.

No entanto, há que reconhecer: isto é um sintoma de algo mais grave que afecta muitos portugueses, senão todos, especialmente aqueles que têm a seu cargo a direcção de entidades. Cada vez que vem um governo novo, mudam-se nomes a ministérios, por exemplo, o Ministério da Agricultura e afins, desde 1975 já se chamou:

  • 1975 – Ministério da Agricultura e Pescas
  • 1981 – Ministério da Agricultura, Comércio e Pescas
  • 1993 – Ministério da Agricultura, Florestas e Alimentação
  • 1986 – Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação
  • 1991 – Ministério da Agricultura
  • 1995 – Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
  • 2004 – Ministério da Agricultura, Pescas e Florestas
  • 2005 – Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas
  • 2011 – Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT!)

Ora, a mim não me têm deixado em paz. Depois do Telejornal, fizeram-me chegar que o Instituto Camões, “criado para a promoção da língua portuguesa e da cultura portuguesa no exterior” e galardoado em 2005 com Prémio Príncipe das Astúrias para as Comunicações e Humanindades, juntamente com a Alliance française, a Società Dante Alighieri, o British Council, o Goethe-Institut e o Instituto Cervantes, já não se chama instituto Instituto Camões. Não. Agora é Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., abreviadamente designado por Camões, I. P. Não é um bocadinho pessoal demais? Só Camões? Qualquer dia pedem para tratar por “tu”. E claro, toca a mudar de logotipo, papel de carta etc. etc. Na página do instituto podem até consultar a Missão do Camões. O endereço é que teimosamente permanece www.instituto-camoes.pt. Escusado será dizer que a Alliance française tem o mesmo nome desde 1883, data da sua criação, a Società Dante Alighieri, desde 1889, data da sua criação, o Goethe-Institut desde 1951, data de formação para substituir a nazificada Deutsche Akademie, o British Council desde 1936, altura em que a sua designação foi encurtada do British Committee for Relations with Other Countries com que havia sido criado dois anos antes. E por aí adiante.

Dias depois, ouvia rádio portuguesa enquanto lavava os dentes e a meteorologia, segundo consta, já não é dada pelo Instituto de Meteorologia que me era familiar aos ouvidos. Não, agora é o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Parece que já é novidade do ano passado, mas tenho estado distraído. Instituto de Meteorologia era o nome desde 1993, porque anteriormente, em 1973, a entidade tinha sido rebaptizada de Serviço Meteorológico Nacional (designação com que havia sido criada em 1946) para Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica. O mais curioso é que o Mar e Atmosfera são objecto de estudo da… Geofísica! E claro, em para consumo doméstico “nacional” ou “português” é a mesma coisa. Toca a mudar de logotipo, papel de carta etc. Ao menos o www.meteo.pt já aponta para o www.ipma.pt. Hmmm… e agora, vale a pena dizer? Cá vai de rajada: Norske Meteorologiske Institutt (1866), Deutscher Wetterdienst (1952), National Weather Service (1970), Meteorological Office (1854) condensado para Met Office. Os espanhóis já são mais como nós.

Se quiserem mais alguns exemplos, mais logotipos e papel de carta:

  • o Instituto dos Museus e da Conservação, I. P., híbrido de 2007 que agregou o Instituto Português de Museus e Instituto Português de Conservação e Restauro. Claro, o nome tinha de mudar. Mais logotipos e papel de carta. O endereço de internet é que teimosamente continua como www.ipmuseus.pt;
  • o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, I.P., híbrido de 2007 que agregou o Instituto Português do Património Arquitectónico e Instituto Português de Arqueologia. Claro, o nome tinha de mudar. Mais logotipos e papel de carta;
  • claro que o acima mencionado IPPAR, já tinha sido uma redenominação de 1992 do Instituto Português do Património Cultural, fundado em 1980. Mais logotipos e papel de carta;
  • o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana que em 2007 deixou de ser o Instituto Nacional de Habitaç…

aaaaaaahhhhhhhhh!

3 de abril de 2013

"