26 de outubro de 2003

Não me considero uma pessoa nem sádica, nem mórbida, nem violenta – excepto quando me cruzo com algum responsável da Sociedade Portuguesa de Autores.
Agora a sério: eu não me considero uma pessoa nem sádica, nem mórbida, nem violenta. Mas desde pequeno que, de vez em quando, uma sensação de atracção pelo abismo, me invade o corpo. Não é daquele tipo de atracção ligado às vertigens; é mais profundo, mais obscuro.
Desde sempre que por vezes dou comigo a pensar como seriam as coisas se todas as pessoas do mundo desaparecessem e eu ficasse sozinho. Como é que eu reagiria numa situação de catástrofe natural. E se estivesse na guerra? Ou se um amigo ou amiga próximo adoecesse mortalmente? São tudo coisas terríveis que ninguém quer que lhe aconteça, nem aos seus pares; tudo coisas que nenhum ser racional quer conhecer; tudo coisas que eu não quero que me aconteça. Mas… há um qualquer sentimento subliminar que me faz despertar a curiosidade para estas situações.
Quando era criança, de vez em quando, nestas divagações, pensava o que aconteceria se um dos meus pais morresse. O meu pai morreu. Não é nada bom, garanto-vos, e o acontecimento abalou muito esta casa. Mas ainda assim, estes estranhos impulsos que vivem lá escondidos no subconsciente, de repente, teimam em saltar cá para fora. Espero que não sejam mais que isso: impulsos do subconsciente. Espero que nunca tomem outra forma, mais real. Será só uma característica individual? Ou é da espécie?

26 de outubro de 2003

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