3 de abril de 2005

Há uma coisa que é chocante na forma como os portugueses vêem o próximo, quando se trata da relação das instituições com os cidadãos. E o mais gritante dos casos vê-se nas obras públicas. Haveria muito por onde pegar, mas só vou falar num dos aspectos: as barreiras arquitectónicas e o egoísmo do espaço público.
Não há muito mais que meia-dúzia de anos Lisboa inaugurou uma série de estações de metro novas. Além disso é feito um grande apelo ao uso de transportes públicos como alternativa aos automóveis. Ora nenhuma (que até agora eu tenha visto) está preparada para ajudar aqueles com dificuldades de movimentação. E não me refiro apenas aos deficientes ou aos que se deslocam e cadeiras de rodas, mas também a idosos, pessoas com compras e outros volumes ou mesmo cadeirinhas de bébés e bicicletas. É que nem todas têm escadas rolantes e poucas são as que têm elevadores. Pior é o caso do Cais do Sodré, que só tem elevador dum dos lados, ou seja, para quem chega! Os que partem têm de descer a escada, os que chegam, podem-se dar ao luxo do subir de elevador. Mas pior, o elevador, só vai até às bilheteiras, não vai até à superfície!
E há algum tempo retiraram as bancadas e sinalizações em braille que (penso) auxiliavam os cegos.
Resumindo, alguém que esteja preso a uma cadeira de rodas, ou que tenha um carrinho de bebé, ou se atira escada abaixo, ou está impossibilitada de usar a rede de metro. E mais uma vez, as estações novas têm menos de dez anos! Se nestas questões simples, não há ninguém capaz de pensar nos outros, como é que se vai arranjar algum sistema social minimamente capaz? E será que ninguém é responsável? Não… claro que não.

3 de abril de 2005

Um pensamento em “Pensar nos outros?

  1. saraleao says:

    “é chocante na forma como os portugueses vêem o próximo”. infelizmente, n é uma questao de naturalidade. andar pelas escadarias do metro de madrid a arrastar uma mala cheia de tralha ja é uma autentica aula de aerobica. imagino o resto. e o cuidado arquitectónico é tal, que volta e meia, abrem-se buracos em plena rua, como se um força sobrenatural sugasse o asfalto.mas nao, sao as obras..

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