25 de setembro de 2010

Anteontem o nosso Primeiro-Ministro veio aos Estados Unidos dar um seminário à margem do mestrado que Manuel Pinho lecciona na Universidade de Columbia, NY. Não quero fazer nenhum grande debate sobre a política, os políticos ou as energias renováveis. Venho só falar dos números. De um em particular, que o PM aventou e que os media papaguearam sem nenhum enquadramento.

Sócrates anunciou que o investimento nas renováveis permite poupar, por ano, 100 milhões de euros em importações de petróleo, notícia que foi amplamente divulgada.

Não cabe aos noticiários fazerem crítica, mas cabe-lhes a eles, isso sim, ajudar os leitores a perceberem o que estão a ler. Confesso que não lido com montantes dessa ordem, mas 100 milhões de euros não me pareceram muito… Fui ver o que dava para comprar com esse dinheiro: a terceira travessia do Tejo custaria 2.000 milhões de euros, portanto, nada de pontes no Tejo. Um TGV para Espanha, custa ao estado (que só paga 42% do total) 5.940 milhões de euros, a preços de 2009, nada de comboios. Um novo aeroporto são só 4.900 milhões de euros; também não dá, embora segundo os senhores do JN no artigo referenciado, a terceira travessia é uma pechincha, só 145 milhões, mas prefiro confiar no valor anterior, que vem do próprio governo e foi escrito por extenso.

Certo, dirão, mas isso são investimentos a muitos anos, para durarem uns, vá lá, cinquenta anos. Logo, 50 x 100M€ = 5.000 milhões de euros! É comparável… a poupança no petróleo dá para um daqueles investimentos! Afinal não é assim tão pouco! Vejamos só um último valor, antes de largarmos o assunto… Que significam 100 milhões de euros em poupança petróleo, no panorama total das coisas?

Ora bem, em 2009, o custo médio do barril de Brent, foi de $62.7/barril. A taxa de conversão média foi de 1.39, logo o preço médio por barril dá €45. Agora o consumo: segundo o WolframAlpha, a estimativa do consumo de petróleo para 2009 foi de 272.181 barris por dia. Logo, num ano, gastou-se €4.470.572.925, i.e, cerca de 4.500 milhões de euros. O que se poupa é 2.2% do total do consumo anual.

Claramente, um título que dissesse 2.2% era menos chamativo. Sei mais informação 2.2% por ano não parece ser nada de milagroso. Contando com o restante das importações energéticas, em 2008, o saldo da balança era de -8.000 milhões de euros, logo a percentagem é menor considerando toda a energia que importamos. Confesso, no entanto, não sei o investimento que foi necessário para garantir essa poupança de 100 milhões de euros anuais, portanto esses 2.2% até podem ser um bom negócio. Estas minhas contas todas, acabaram por não dizer o fundamental: é ou não bom o negócio que está a ser feito. Não tenho os dados para dizer se sim, senão, mas a questão que quis deixar aqui foi a de que os números só por si dizem pouco, há que os enquadrar (que é diferente de massajar) e os jornais deviam-no fazer decentemente.

25 de setembro de 2010

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