Ah e tal a avaliação é preciso. É o que toda a gente diz. Mas isso é quase como dizer que o ar é de todos.
Não gosto da senhora ministra da educação. E por várias razões: primeiro, não põe fora do ministério (como nenhum dos vinte e tal que a antecederam) os pseudo-intelecto-pedagogos que destroem tudo, mas sempre com uns textos muito bonitos e cheios de palavras e expressões como “composições matemáticas”; segundo, tenta pôr os professores a fazer de tudo menos o que interessa, que é dar aulas e bem; terceiro e mais importante, porque pretende reformar tudo menos abordar aquilo que interessa que é ensinar coisas relevantes às criancinhas – coisas relevantes sendo instruí-las com os conteúdos, factos, ideias e pensamentos, obrigá-las a pensar e por fim dar-lhe a primeira experiência de respeito, responsabilidade e tudo o mais que faz parte do funcionamento duma sociedade decente bem engrenada (menos a boa educação, que isso faz tem de se trazer fundamentalmente de casa).
Não é só do ministério que vêm pérolas, veja-se esta:
O deputado do CDS-PP João Paulo Carvalho pediu à maioria socialista que comentasse “o caso do conselho pedagógico de uma escola de Barcelos que decidiu que os alunos podem passar de ano mesmo com cinco negativas”.
Na resposta, o deputado do PS Bravo Nico (…) deu a entender estar de acordo com a decisão do conselho pedagógico, argumentando que “é sempre muito mais exigente e dá sempre muito mais trabalho às escolas e aos professores integrarem os alunos com percursos de aprendizagem difíceis. É sempre mais fácil colocá-los fora da escola. A nossa resposta é fazer com que as crianças fiquem dentro da escola. O direito à educação é um direito básico”
in Público
Mas a ministra e cia. não desistem e contra-atacam. Aqui fica um exemplo, salientado por Maria Filomena Mónica, um inquérito aos professores tão interessante e relevante como muita da anterior burocratreta:
Não contente com os anteriores disparates (ver as grelhas de avaliação a serem utilizadas), a Direcção-Geral pretende que os professores-avaliadores respondam a perguntas reveladoras da sua atitude quanto a vários temas: um dos quesitos incide sobre a sua predisposição para vestir roupas “vistosas, boémias ou que chamassem a atenção de qualquer forma”.
in Meia-Hora, via O Carmo e a Trindade
Desde há muitos ministérios/ministros a esta parte que o que interessa são os números. Pura e simplesmente. Mais nada. E agora? Com tudo isto a senhora ministra ganhou uma guerra que provavelmente não irá ganhar. A grande questão é se alguém irá ganhar alguma coisa com esta embrulhada.
Tendo dito o que penso da senhora ministra e demais indivíduos que a orbitam, passemos ao outro lado da barricada. Sinceramente, não sei o que é o processo da avaliação que está a ser implementado, mas lembro-me de ver a minha mãe candidatar-se a professora titular e em todo o processo, quase que o que menos interessava era saber se o professor verdadeiramente ensinava ou não. Segundo a minha mãe, após a a comoção que houve logo no início, aquando da implementação da avaliação, e com a pressão inicial dos professores, ao que parece o ministério deu uma certa liberdade às escolas para aligeirarem e moldarem todo o processo. No entanto, muitos terão usado toda a grandeza que aquilo lhes conferia para fazerem jogozinhos de poder, para complicar a vida uns aos outros. Não sei em que medida isto aconteceu em todo o lado, se foi significativo ou não, nem desculpa a ministra dos seus pecados, mas leva-nos a outra questão: os portuguesinhos.
No blog Abrupto, o leitor e autor do livro “Ensino Básico vai de mal a pior – uma abordagem pedagógica e política” Carlos Paiva descreve o fracasso das suas tentativas de organizar sessões de divulgação do livro em auditórios municipais e de Escolas Públicas, estes últimos alugados. Algumas das reacções:
Escola Secundária da Senhora da Hora – uma professora obtém autorização, de um elemento do Conselho Executivo, para colocar na Sala dos Professores umas pequenas tiras de papel anunciando a sessão de lançamento do livro. Nelas figuram o título e um extracto do que vem na contracapa. Alguns minutos depois o Vice-presidente desse mesmo órgão que tinha autorizado a colocação da informação vai ao encontro da professora dizendo que ela não tinha autorização para colocar «aquilo» na escola, nem sequer para estar naquele espaço e que estava a invadir as instalações. Ordenou que se retirasse, imediatamente.
Escola Secundária do Padrão da Légua – O Conselho Executivo não autoriza o aluguer das instalações para a sessão de lançamento do livro. É claramente afirmado – verbalmente – que a razão da não autorização está no título e no que se afirma na contracapa do livro.
Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos …informam-me que é possível utilizar o Auditório, uma vez que, para a data prevista para a sessão de lançamento do livro (25 de Outubro), ele se encontra desocupado, assim como para todas as Sextas-Feiras à noite, Sábados e Domingos de todo o mês de Outubro. Preenchi, de imediato, uma «ficha de reserva do auditório» e um «termo de responsabilidade» pela utilização da sala. (…) Finalmente, depois de muito pressionar obtenho resposta: foi marcada, por ordem superior, uma actividade exactamente para o dia e hora que eu pretendia, o que, atendendo ao mapa de disponibilidades do auditório, não deixa de ser uma estranha, mas possível coincidência. Verbalmente é-me sugerido que apresente o livro para ser examinado. Penso, entristecido, nos exames prévios da ditadura fascista. (…) A resposta nunca chegou: o Auditório permaneceu inutilizado (…).
Mais na página do Autor.
Mas as coisas são mais generalizadas; já em Março, nas vésperas de uma manifestação de professores, várias escolas foram visitadas pela PSP com o objectivo de recolher informação sobre a participação na manifestação. E agora, como me fez saber o João, a PSP resolveu, por ordens do Director-Nacional, deixar de revelar o número de participantes em manifestações por ser uma informação sem “nenhuma mais-valia”.
Este tipo de acções, como se vê, ocorre tanto por ordens de altos responsáveis, como por funcionários de menos importância. Por muitos tiques autoritários que a senhora Ministra, o Primeiro-Ministro ou o Governo tenham, e é inegável que os têm, o que é facto é que este tipo de situações não ocorrem sem a colaboração e o voluntarismo de muitas outras pessoas. Sinceramente não sei o que os motiva, pois não acredito que os tentáculos do governo, que ainda assim é democrático, alcancem tão longe. Não, acho que são resquícios de mentalidades de outras alturas, má formação, gente mesquinha. São os portuguesinhos. Gente perigosa. Gente nojenta. Mas não é a atirar ovos que se contraria, pelo contrário, desce-se tão abaixo. Estarão bem uns para os outros. Infelizmente o país é de muito mais gente.
ADENDA Esqueci-me de referir que aprecio muito a visão do sistema educativo e das alternativas defendidas por Paulo Rangel. Confesso que desde que assumiu a liderança do grupo parlamentar do PSD que não o ouvi referir-se a este assunto da forma clara como o fazia aos microfones do RCP.
Antes de mais, caro João, as minhas desculpas pelo tempo que demorei a responder à tua tão prolífica vaga de comentários. Mas antes de mais nada devia era dizer: Eh pá, pára! Deixa-me embirrar à vontade! Tu tens é uma embirração com a minha embirração pelo dr. Santana Lopes! Mas não digo. Não digo porque até tens razão. Tenho uma embirração especial pelo dr. Santana Lopes e não, este último post não foi nada de especial, foi mesmo só porque me deu gozo ler a entrevista dele. Agora há aí coisas muito sérias que não são nada para rir e evocaste muitas delas, mas não vou conseguir falar de tudo, para já.
Disseste que nunca critiquei José Sócrates em sede própria, que no meu caso é aqui. Verdade seja dita que não faço dele um grande alvo (embora tenha na cabeça uma coisa para escrever, o post intitula-se Ah Magalhães e estava à espera que passasse o sururu para me dedicar a isso, mas o homem resolveu ir dizer coisas para a América do Sul e já não deu; mas há-de vir!). Ora bem, tenho de defender a minha honra:
A vacuidade do discurso de Sócrates é mais do que óbvia. É escandalosa. Já muitos disseram das caraterísticas alcalinas das suas palavras. Mas o pior é que Sócrates não consegue concretizar nada. Não consegue especificar nada. Não dá um exemplo prático do que quer fazer.
a 15 de Fevereiro de 2005
Ora a verdade é que não gosto do eng. José Sócrates (…).
a 19 de Fevereiro de 2005
Vais dizer: – ah, mas isso foi vai para três anos e uns meses. Toda a razão. Estou em falta. Mas já critiquei! Ah bom.
Agora: não me apanham em festa nenhuma. Olhe, sábado tenho uma festa de anos. É uma festa com muita gente, enfim, tenho de ir.
Agora, se me perguntar: vai a recepções de embaixadas? Não, não vou. No outro dia fui à do Brasil, no dia da independência. O embaixador foi muito simpático, disse que gostava muito que eu fosse. E fui.
Nesse dia fui a três cerimónias: essa [na embaixada do Brasil], a entrega do prémio da Fundação Champalimaud e outra no Espaço Chiado. Tinha a obrigação de ir. (…) Cumpri a minha obrigação e fui-me embora. Porque eu desisti de ir a festas.
Por isso digo que não há lugar como o de presidente de câmara.
Eu quando sucedi a Durão Barroso não pensei em mim.
Ah não. Se exercer mais algum cargo, é para tentar estar dois mandatos em Lisboa. E nunca mais quero ouvir falar de outros cargos… (…) Só depois de dois mandatos na Câmara de Lisboa. Então, eventualmente, não sei o que acontecerá.
Citações retiradas da entrevista de Santana Lopes à Pública. Contradições?
Não deixa de ser irónico que tenha sido na Califórnia que a Proposition 8 foi adiante, no dia em que Obama foi eleito, no estado que é, depois de o casamento gay ter sido já autorizado, tudo sob o mote Change.
NOTA: Mais informação sobre a Proposition 8 na Wikipedia «Eliminates Right of Same-Sex Couples to Marry»
Do QueroSerJornalista.com:
A Sojormédia Capital, SA compromete-se também a assegurar as medidas de segurança necessárias e ao seu alcance para a protecção dos dados. No entanto, sendo a recolha efectuada pela Internet, existe o risco dos dados pessoais dos candidatos serem vistos e utilizados por terceiros não autorizados.
Ah, sim, porque na Internet, os perigos são muitos e variados. A internet, esse grande antro! Ha! Das duas uma, ou não fazem assim tanto esforço para «assegurar as medidas de segurança necessárias e ao [seu] alcance para a protecção dos dados» ou incluíam mais riscos do género “existe o risco de ocorrer um tremor de terra ao submeter os seus dados”, porque sim, também existe. Agora desculpas destas são lamentáveis.
O site do Diário de Notícias é horrível. E as feeds RSS ainda pior; a julgar pela única disponível, só há dez a doze notícias por dia. No entanto as crónicas, sobretudo a de Ferreira Fernandes, valem a pena. Por isso criei uma feed RSS para as linkar, actualizada, como o jornal, uma vez por dia.
Aqui: http://scheeko.org/dn-opiniao.xml
NOTAS: 1 – É provável que haja uns bugzitos. Agradeço que mos digam. 2 – A feed só tem a ligação para os artigos e o resumo destes, como estão na página geral de opinião do DN. Uma vez que os conteúdos não são meus, não vou desviar tráfego da página do Jornal.

Sou um europeu e por agora vivo nos Estados Unidos. Longe de mim saber o que é a América. A América é um continente. Longe de mim saber o que pensa a América; vivo num bastião democrata. Obama ganhou e embora eu pudesse, ou mesmo devesse, ter intitulado este artigo como Obama pode vir a tornar-se um dos melhores presidentes dos Estados Unidos, vou deixar um certo entusiasmo constringido levar-me um pouco mais adiante.
Obama ganhou a McCain por cinco por cento do voto popular. Embora a vitória tenha sido descrita como estrondosa, o facto é que a América permanece, em boa parte, dividida. Agora que Obama se prepara para ocupar o seu lugar na Sala Oval, há que sermos realistas e ter consciência que chega à presidência com as mãos atadas. E as mãos atadas por duas cordas: a primeira é a que quer ele, quer McCain, quer qualquer presidente teria e são as restrições do poder presidencial americano. O presidente dos EUA não é um senhor todo poderoso. O sistema político e executivo americano está baseado numa série de barreiras que tornam difícil as alterações de fundo e, embora tanto o Congresso como o Senado sejam da côr do presidente, aqui não há disciplina de voto. A segunda corda que ata as mãos de Obama é a situação desastrosa em que herda o país: financeira, económica, de credibilidade e respeitabilidade internacional. Bush foi um mau presidente.
Um presidente negro não significa o fim do racismo. A eleição de Obama é sem dúvida um passo no progresso e na evolução da moral e da cultura do bem, no que à segregação e violência racial diz respeito. Não é, no entanto, nenhum símbolo do fim do conflito e da mentalidade racista. É porém um passo de gigante: nos próximos oito anos, toda uma geração vai crescer com um negro como presidente do seu país. Claro que ainda vão existir skinheads, claro que vão haver pais a incitar ao ódio os filhos e claro que vão haver crianças que vão propagar essas bestialidades Mas a figura vai lá estar presente, aos olhos de todos e mais importante nas mentes de todos. Vai ser normal.
Oiço de Portugal e da Europa vários comentadores a opinar sobre o rumo que o novo presidente vai dar à política externa, que é isso que interessa ao mundo. Acho que os Estados Unidos vão sobretudo ser mais corteses e menos arrogantes. Mas sinceramente não acho que Obama vá deixar de ter uma posição firme, forte e pesada. Não acredito que continuem Guantanamo e afins, e penso que Obama vai conseguir que os EUA sejam novamente respeitados, mas não me espantaria se na política externa os EUA não deixassem de ser exigente para com o mundo. Contudo não concordo com o que a maioria vai dizendo: para o mundo, o mais importante é mesmo o sucesso da política interna que Obama possa vir a ter. Só assim é que a América ganhará verdadeiro peso – quando se encontrar a si própria. E convenhamos, apesar dos Estados Unidos terem perdido nos últimos anos o estatuto e o poderio que detinham, o que existe para os substituir? A Europa continua a não ter uma mão forte para ditar o rumo que quer seguir, a China, embora em crescendo ainda não ousa ou não quer assumir a dianteira e a Rússia parece que só pulsa à cadência do preço da energia. Os EUA podem não ser o bastião que eram, nem empurrar para a frente da forma como faziam, mas não houve ainda nenhum país ou conjunto de país que tomasse essa posição.
Obama não vai poder fazer milagres. Não controla os mercados financeiros, não controla erros passados, não controla a situação económica. E é certo e sabido que a economia vai estar complicada nos próximos tempos. Algumas medidas governamentais poderão ditar se recupera dentro de um ano, se recupera dentro de três. Vai subir impostos, sim, não há dúvidas. É aí, talvez, que se encontra o papel mais importante que pode vir a ter: quais os programas e políticas que vai financiar e quais é que vai cancelar, num contexto de fraca disponibilidade financeira.
Mas a economia vai começar a recuperar nos próximos quatro anos. E vai recuperar sobre o signo de Obama. Melhor ou pior, poderá depender dele, como também poderá não depender. Eu acho que vai depender. Hoje ouvi, num contexto que nada tinha a ver com política, a seguinte frase: Once you start something, you don’t know what path the road will lead you to. The one thing you know is that discipline and dedication will make you accomplish far more great things that if you’d have immediately backed out. Obama corporiza a dedicação, mas sobretudo a disciplina. E é essa disciplina aliada à força inspiradora com que contamina os que o ouvem, que vai fazer da América um novo novo mundo. Como já foi dito, Obama não fez campanha para ganhar a maioria. Obama fez campanha para mudar o mundo a começar pelos EUA. Obama montou uma das mais impressionantes máquinas de vender sonhos palpáveis, sonhos que se agarram e isso ficou provado com a forma como vendeu o sonho de chegar a presidente. Do improvável à realidade, de uma forma verdadeiramente empreendedora e métrica. E é este corporativismutópico que vai fazer com que o seu projecto vá para a frente. Sessenta e seis por cento dos menores de trinta anos votaram por ele: são estes que se querem livrar do pessimismo, do manto negro, deprimente e que tolhe, são estes que querem uma inspiração, não para ir para o café à noite discursar sobre um mundo melhor e uma ideologia, mas querem ter a motivação para irem trabalhar de manhã, a inspiração para criarem novos projectos e a liberdade para darem mais de si para que o país melhore.
Acho que Obama vai investir na educação, não sei exactamente como, mas penso que vai empurrá-la na direcção de uma maior exigência. Acho que Obama vai investir mais na ciência e tecnologia e isso é fundamental para o garante do conhecimento futuro, base de quase todas as revoluções industriais e motores económicos. Acho que Obama vai investir num sistema de saúde digno. Não vejo em Obama um messias, nem vejo nele um pragmático. Vejo nele a personificação de uma máquina, quase imparável e sempre apontada em direcção à utopia palpável. Vejo nele um negociador exímio e um gestor fabuloso. É isso que lhe vai dar a vantagem, é isso que vai fazer dele um dos melhores presidentes americanos de sempre. E sinto-me privilegiado por poder viver isso aqui.

Como um leitor do blog de Pacheco Pereira lhe escreveu recentemente, tenho idade para ser seu filho, e ouço-o desde, bem nem me lembro desde quando. Posso não concordar com tudo, mas aprecio sempre as opiniões que tem e reconheço-lhes mérito e valor intelectual. No entanto, a defesa que fez de McCain foi desastrosa, bem como a incapacidade de reconhecer o mérito intelectual de Obama. E, confesso, não deixa de ser curioso que o JPP tenha mais afinidade com os habitantes do Kansas e outros flyover territories do que com as costas.
Com a euforia da vitória de Obama, ninguém reparou que o desemprego em España está nos 11,9%, único na EU acima dos dez por cento e a confederação de organizações empresariais prevê que este chegue aos 17% em 2010. Dezassete por cento.