18 de junho de 2007

Recentemente a Apple lançou, na sua conferência anual de programadores, o Safari para Windows e anunciou que esse seria na prática o único IDE para o vindouro iPhone. Para uns será chinês, mas o objectivo é uma reflexão(zinha) sobre a estratégia de profundidade da Apple. Não sou programador, nem informático, portanto é a opinião de um consumidor minimamente interessado, mais ou menos atento.
Acho que devemos começar pelo iPod, o primeiro produto verdadeiramente de massas da Apple. Não vou discutir aquilo que toda a gente sabe. Aliás, a única coisa que vou dizer do iPod é o seguinte: é caro, é bonito, funciona muito bem – como é filosofia da Apple (isto não significa que tudo o que é Apple é bonito, caro ou funciona bem!) – e, ao contrário do que era costume com os produtos Apple, está em toda a parte. Por agora o que quero dizer sobre o iPod é isto.
O que me interessa sobre o iPod para já foi a sua capacidade de penetração, trazendo consigo o iTunes, com a sua loja e os podcasts. Nem a venda de música online, nem os podcasts eram originais, mas a verdade é que a Apple conseguiu uma penetração fabulosa. Mais, não é apenas uma larga fatia do mercado. O mais importante é a lenta mas poderosa transformação deste e, mais ainda, do que rodeia o mercado. E na música é a mudança da postura das editoras, dos músicos, da venda digital, do próprio conceito de produção e sobretudo dos direitos de autor. Esta é uma mudança que ainda está a ocorrer e lentamenta vai mudar o panorama de como se faz música.
Ao tentar banalizar os podcasts (puxando utilizadores de macs, pc e linux) a Apple está a quebrar barreiras importantíssimas no que diz respeito às questões de propriedade (e lembro que os podcasts ainda não são dado adquirido na sociedade). Depois veio o DRM e certamente mais virá, sobretudo quando se chegar ao video em plena força, que requere uma infra-estrutura de internet um pouco mais poderosa – mas que pouco falta.
O iPhone, penso eu, se tiver sucesso poderá tê-lo a dois níveis: o primeiro como dispositivo integrado de alto potencial de comunicação, integração e mobilidade, com uma capa de usabilidade extraordinária. Mais uma vez, nada ou quase nada é totalmente novo, mas o conjunto será.
O segundo nível de sucesso que poderá ter é ser o primeiro promotor da computação móvel. Ao apresentar o Safari em Windows e como única plataforma de desenvolvimento para o iPhone a Apple está lentamente a forçar o primeiro passo para se passar as aplicações para dentro da net, aliadas à mobilidade. Novamente, não é totalmente novo; há as Google Apps, ou aplicações como o Picnik, que embora ainda estejam a dar os primeiros passos, já fazem coisas com dignidade e potencial de usabilidade. Aí o iPhone poderá dar os primeiros passos na direcção do computador móvel – não o computador transportável, como actualmente são os portáteis.
Obviamente ainda falta muito para um futuro desses, mas penso que mesmo que o iPhone falhe por completo (o que não acredito), o futuro está definitivamente a ser lançado em que as aplicações vão correr na internet e vêm buscar recursos mínimos aos nossos terminais, em vez de correrem, como agora, nos nossos computadores, indo buscar dados à internet.

18 de junho de 2007

2 pensamentos em “Atirar maçãs

  1. Primeiro que tudo, post interessante!
    Concordo genericamente com tudo o que dizes, mas só fazer algumas considerações:
    Primeiro a estratégia em relação ao Safari é mais do que mero sistema de “desenvolvimento” para o iPhone. Tal como o iTunes é maneira de eles conquistarem terreno para o Macintosh que é o principal fonte de rendimento deles, apesar de tudo. É forma de familiarizar as pessoas com o que é Apple e ser depois fácil mudar…
    Segundo, o iPhone até pode vir a ser um sucesso, mas acho que ninguém deve esperar mais um fenómeno tipo iPod… Acho isso um erro de muitos analistas, o mercado das telecomunicações é muito mais feroz do que o mercado vazio do mp3 há uns anos atrás. Como tu próprio disseste o iPhone não traz nenhum conceito realmente novo; agrega pois imensos conceitos já conhecidos.
    Terceiro, muitos programadores queriam saber qual era o SDK para o iPhone para saberem se podiam fazer aplicações da mesma forma que a Nokia faz aplicações com SDK (não oneroso) para os seus S60. Pessoalmente parecer-me-ia melhor opção que o AJAX/Web 2.0/etc que se vende por aí. É que quem trabalha com isso todos os dias (como eu) sabe a manta de retalhos que isso é… Chamar-lhe standard (ao AJAX) é ser MUITO generoso… Tem mais problemas que qualidades, e nesse aspecto o Safari ainda é pior que os outros… Essa coisa das aplicações remotas é meio estranha, era coisa dos anos 70/80 com os mainframes. Preferiria algo mais na onda da computação distribuída pura.
    Bom, acho que já me estiquei.
    Abraço!

  2. Tal como o iTunes é maneira de eles conquistarem terreno para o Macintosh (…)
    Não digo que não seja o objectivo a longo prazo, mas acho que definitivamente não é o primeiro! Penso que o que levou à adopção do iTunes no Windows, antes de se saber se era bom ou não para gerir música, foi o facto de quem tinha um iPod estava “preso” ao iTunes.
    (…) acho que ninguém deve esperar mais um fenómeno tipo iPod…
    Talvez não. Só imaginar o que é combater a Nokia. Mas o iPod também começou devagar. Acho aqui só acontecerá se for verdadeiramente inovadora a maneira como se interage com o telefone e os conteúdos multimedia. No entanto haverá limitações importantíssimas como a largura de banda e a bateria, mesmo que o interface seja bom e mais conteúdos apareçam. E há também o factor da copiabilidade: se for bom, depois do iPod, já há quem esteja atento (e bem mais preparado) para copiar.
    Por fim, não conheço em pormenor os problemas do AJAX e afins. A verdade é que a net está cada vez mais uma ferramenta com que se pode trabalhar, por oposição a meramente mostrar e registar. E quanto às aplicações remotas, não digo que sejam como essas dos anos 80, claro. Mas é melhor não entrar muito por detalhes para não me espalhar! 😀

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